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Added by lidyaquino on 16 Nov 2008 01:27
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Caio Fernando Abreu

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Os Dragões Não Conhecem o Paraíso - Caio Fernando Abreu
Escritor da paixão, como foi chamado por Lygia Fagundes Telles, o gaúcho Caio Fernando Abreu reúne neste livro treze contos girando todos em torno do mesmo tema - o amor. Amor e sexo, amor e morte, amor e abandono, amor e alegria, amor e memória, amor e medo, amor e loucura são alguns de seus desdobramentos nestas histórias que formam uma espécie de retrato interior - tirado à beira do abismo - do Brasil de hoje.

"(...)Sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor pois se eu me comovia vendo você pois se eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo meu deus como você me doía de vez em quando eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio duma praça então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme só olhando você sem dizer nada só olhando e pensando meu deus mas como você me dói de vez em quando."

"Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim, que seja doce. Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo; repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante. Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder. Tudo é tão vago como se fosse nada."

"...temo que seja outra vez aquela coisa piedosa, faminta, as pequenas-esperanças, mas quando desvio meu olho do teu, dentro de mim guardo sempre teu rosto e sei que por escolha impossível recuar para não ir até o fim e o fundo disso que nunca vivi antes e talvez tenha inventado apenas para me distrair nesses dias..."

"Então me vens e me chegas e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque é assim que és..."


"Dane-se. Comigo sempre foi tudo ao contrário."
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O Ovo Apunhalado - Caio Fernando Abreu
Anjos, monstros devoradores, alucinações muito reais. Os seres fantásticos que povoam este livro são constituídos de mistérios. Suas rotinas triviais foram recriadas na forma de epopéias transformadoras, despidas dos disfarces que arrastam os seres humanos no cotidiano. Uma obra que mostra que o grotesco não está em tais seres. Está em não saber vê-los.

"...deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente."

"Deixa que a loucura escorra em tuas veias,e quando te ferirem, deixe que o sangue jorre enlouquecendo também os que te feriram."

"Tudo isso me perturbava porque eu pensara até então que, de certa forma, toda minha evolução conduzira lentamente a uma espécie de não-precisar-de-ninguém. Até então aceitara todas as ausências e dizia muitas vezes para os outros que me sentia um pouco como um álbum de retratos. Carregava centenas de fotografias amarelecidas em páginas que folheava detidamente durante a insônia e dentro dos ônibus olhando pelas janelas e nos elevadores de edifícios altos e em todos os lugares onde de repente ficava sozinho comigo mesmo. Virava as páginas lentamente, há muito tempo antes, e não me surpreendia nem me atemorizava pensar que muito tempo depois estaria da mesma forma de mãos dadas com um outro eu amortecido — da mesma forma — revendo antigas fotografias. Mas o que me doía, agora, era um passado próximo."


"Porque você não pode voltar atrás no que vê. Você pode se recusar a ver, o tempo que quiser: até o fim de sua maldita vida, você pode recusar, sem necessidade de rever seus mitos ou movimentar-se de seu lugarzinho confortável. Mas a partir do momento em que você vê, mesmo involuntariamente, você está perdido: as coisas não voltarão a ser mais as mesmas e você próprio já não será o mesmo."


"..Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas as coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? dolorido-dolorido, estou repetindo devagar para que você possa compreender melhor..."

"De repente,eu não conseguia ir adiante.E precisava:sempre se precisa
ir além de qualquer palavra ou de qualquer gesto."
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Morangos Mofados - Caio Fernando Abreu
'Morangos mofados', de Caio Fernando Abreu, tornou-se um dos maiores sucessos editoriais da década de 80 ao mostrar o que há de mais profundo no ser humano. A busca, a dor, o fracasso, o encontro, o amor e a esperança estão presentes na série de contos que se entrelaçam como se fossem um romance. Os anseios dos anos 70 e a falta de perspectiva de concretizá-los são uma realidade que se mostra atual.

"Não que estivesse triste, só não compreendia o que estava sentindo"

"Ah, fumarás demais, beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias desesperadas, noites e noites a fio permanecerás insone, a fantasia desenfreada e o sexo em brasa, dormirás dias adentro, noites afora, faltarás ao trabalho, escreverás cartas que não serão nunca enviadas, consultarás búzios, números, cartas e astros, pensarás em fugas e suicídios em cada minuto de cada novo dia, chorarás desamparado atravessando madrugadas em tua cama vazia, não consegurás sorrir nem caminhar alheio pelas ruas sem descobrires em algum jeito alheio o jeito exato dele, em algum cheiro estranho o cheiro preciso dele(...)"


"Mas dirás assim, por exemplo, como você sabe, a gente, as pessoas infelizmente têm, temos, essa coisa, as emoções, mas te deténs, infelizmente? o outro talvez perguntaria por que infelizmente? então dirás rápido, para não te desviares demasiado do que estabeleceste, qualquer coisa como seria tão bom se pudéssemos nos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada, mas infelizmente, insistirás, infelizmente nós, a gente, as pessoas, têm, temos - emoções."

"Te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez."

"Não se preocupe, não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais auto destrutiva do que insistir sem fé nenhuma? Ah, passa devagar a tua mão na minha cabeça, toca meu coração com teus dedos frios, eu tive tanto amor um dia."

"Era sábado à noite, quase verão, pela cidade havia tantos shows e peças teatrais e bares repletos e festas e pré-estréias em sessões de meia-noite e gente se encontrando e motos correndo e tão difícil renunciar a tudo isso para permanecer no apartamento lendo, espiando pela janela a alegria alheia."

"Sim, tenho vontade de me jogar pela janela, mas nunca foi possível abri-la. Não, não sei o que gostaria que você me dissesse. Dorme, quem sabe, ou está tudo bem, ou mesmo esquece, esquece."

"Seria tão bom se pudéssemos nos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada, mas infelizmente nós, a gente, as pessoas, têm, temos - emoções."


"- ... Mas queria uma coisa nas mãos agora.
- Você tem uma coisa nas mãos agora.
- Eu?
- Eu.


- Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem."

"Não chegaram a usar palavras como especial, diferente ou qualquer outra assim. Apesar de, sem efusões, terem se reconhecido no primeiro segundo do primeiro minuto. Acontece porém que não tinham preparo algum para dar nome às emoções, nem mesmo para tentar entendê-las."

"Meus dias são sempre como uma véspera de partida."

"Não era amor. Aquilo era solidão e loucura, podridão e morte. Não era um caso de amor. Amor não tem nada a ver com isso. Ela era uma parasita. Ela o matou porque era uma parasita. Porque não conseguia viver sozinha. Ela o sugou como um vampiro, até a última gota, para que pudesse exibir ao mundo aquelas flores roxas e amarelas. Aquelas flores imundas. Aquelas flores nojentas. Amor não mata. Não destrói, não é assim. Aquilo era outra coisa. Aquilo é ódio."

"As pessoas falam coisas, e por trás do que falam há o que sentem, e por trás do que sentem, há o que são e nem sempre se mostra. Há os níveis não formulados, camadas inperceptíveis, fantasias que nem sempre controlamos, expectativas que quase nunca se cumprem e sobretudo, como dizias, emoções que nem se mostram."

"Nada modificará o estar das coisas no mundo, e a minha partida ontem, hoje ou amanhã, não mudará coisa alguma."
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Ovelhas Negras - Caio Fernando Abreu
Coletânea de contos coligidos pelo autor. Vinte e cinco textos que compõem a paisagem do ofício de escrever de um grande escritor do século XX no Brasil. 'Ovelhas negras' oferece uma esplêndida oportunidade de perscrutar as variadas trilhas literárias experimentais pelo autor de 'Morangos Mofados'. Caio reuniu suas ovelhas desgarradas no percurso que o levou da incipiência infantil (o primeiro conto do livro é de 1962) à maturidade condimentada por um talento excepcional. Ele entreabre as cancelas que guardam o campo da sua intimidade, dos seus sentimentos, e deixa o leitor caminhar muito perto das fronteiras mais sensíveis da sua espiritualidade.

"...quando passo por lá assim rapidamente, numa tarde como a de ontem ou outras iguais destes tantos meses passados, penso se não deveria retomá-la, essa rua, essa caminhada, mas sem ele agora- uma tarde, noite ou manhã quaisquer para refazer o percurso inverso atá a casa dele, onde nem mora mais. E parado naquela esquina feito espião, contemplar a sacada daquele décimo andar onde costumávamos nos debruçar abraçados para olhar aquela rua lá embaixo sendo aos poucos coberta pelas sombras da tarde furando a copa-túnel das árvores. As sombras que crescem devagar sobre o asfalto quente do verão passado. As sombras, enfim."

"Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.
A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão."


"Talvez um voltasse, talvez o outro fosse. Talvez um viajasse, talvez outro fugisse. Talvez trocassem cartas, telefonemas noturnos, dominicais, cristais e contas por sedex (...) talvez ficassem curados, ao mesmo tempo ou não. Talvez algum partisse, outro ficasse. Talvez um perdesse peso, o outro ficasse cego. Talvez não se vissem nunca mais, com olhos daqui pelo menos, talvez enlouquecessem de amor e mudassem um para a cidade do outro, ou viajassem junto para Paris (...) talvez um se matasse, o outro negativasse. Seqüestrados por um OVNI, mortos por bala perdida, quem sabe. Talvez tudo, talvez nada"

"Vai passar,tu sabes que vai passar.Talvez não amanhã,mas dentro de uma semana, um mês ou dois,quem sabe?O verão está aí,haverá sol quase todos os dias,e sempre resta essa coisa chamada¨impulso vital¨.Pois esse impulso ás vezes cruel,porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo,te empurrará quem sabe para o sol,para o mar,para uma nova estrada qualquer e,de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como "estou contente outra vez"..."

"Por favor, não me empurre de volta ao sem volta de mim, há muito tempo estava acostumado a apenas consumir pessoas como se consomem cigarros, a gente fuma, esmaga a ponta no cinzeiro, depois vira na privada, puxa a descarga, pronto, acabou. Desculpe mas foi só mais um engano? E quantos ainda restam na palma da minha mão? Ah, me socorre que hoje não quero fechar a porta com essa fome na boca."
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Os emblemáticos, revolucionários e referenciais anos 60 não podem deixar de influenciam a obra de quem os estava vivenciando a plenos pulmões, alma e coração. Quando se tem talento e sensibilidade literária para fazer este registro, estão dadas as condições para uma obra. Passados 25 anos, o autor fez uma rigorosa releitura e reescrita de vários contos. O título também foi ligeiramente alterado de 'Irremediável' para 'Ir-remediável', num jogo de palavras de superação e transcendências.

"Como chegar para alguém e dizer de repente eu te amo para depois explicar que esse amor independia de qualquer solicitação, que lhe bastava amar, como uma coisa que só por ser sentida e formulada se completa e se cumpre? Pois se ninguém aceitaria ser objeto de amor sem exigências..."

"Se meus olhos fossem câmeras cinematográficas eu não veria chuvas nem estrelas nem lua, teria que construir chuvas, inventar luas, arquitetar estrelas. Mas meus olhos são feitos de retinas, não de lentes, e neles cabem todas as chuvas estrelas lua que vejo todos os dias todas as noites."

"Sôfrego, torno a anexar a mim esse monólogo rebelde, essa aceitação ingênua de quem não sabe que viver é, constantemente, construir, não derrubar. De quem não sabe que esse prolongado construir implica em erros, e saber viver implica em não valorizar esses erros, ou suavizá-los, distorcê-los ou mesmo eliminá-los para que o restante da construção não seja abalada."

"Era coração, aquele escondido pedaço de ser onde fica guardado o que se sente e o que se pensa sobre as pessoas das quais se gosta? Devia ser."

"Mania de esperar que as coisas sejam dum jeito determinado, por isso a gente se decepciona e sofre."

"- Podia esperar de qualquer um essa fuga, esse fechamento. Mas não em você, se sempre foram de ternura nossos encontros e mesmo nossos desencontros não pesavam, e se lúcidos nos reconhecíamos precários, carentes, incompletos. Meras tentativas, nós. Mas doces. Por que então assim tão de repente e duro, por quê?"

"- Seria isso, então? Você só consegue dar quando não é solicitado, e quando pedem algo você foge em desespero. Como se tivesse medo de ficar mais pobre, medo de que se alcance seu centro e nesse centro exista alguma coisa que você não quer mostrar nem dar ou dividir. Contido, dissimulado, você esconde essa coisa, será assim?"

"Fico pensando que nunca mais vai se repetir, é só uma vez, a única, e vai me magoar sempre."


"- Compreenda, eu só preciso falar com você. Não importam as palavras, os gestos, não importa mesmo se você continua a fugir e se empareda assim, se olha para longe e não me ouve nem vê ou sente. Eu só quero falar com você, escute. "

"É certo que as pessoas estão sempre crescendo e se modificando, mas estando próximas uma vai adequando o seu crescimento e a sua modificação ao crescimento e à modificação da outra; mas estando distantes, uma cresce se modifica num sentido e outra noutro completamente diferente, distraídas que ficam da necessidade de continuarem as mesmas uma para a outra."

"Só vou perguntar porque você se foi, se sabia que haveria uma distância, e que na distância a gente perde ou esquece tudo aquilo que construiu junto. E esquece sabendo que está esquecendo."

"Você sabe que vai ser sempre assim. Que essa queda não é a última. Que muitas vezes você vai cair e hesitar no levantar-se, até uma próxima queda."
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Limite Branco - Caio Fernando Abreu
Escrito em 1967 e publicado pela primeira vez em 1970, o primeiro romance de Caio Fernando Abreu já antecipava as angústias que dominariam toda sua obra posterior. 'Limite branco' se caracteriza pelo pleno domínio da expressão que sempre esteve na base do trabalho do autor.

"Engraçado, não gosto do meu quarto - das paredes, dos móveis -, mas gosto demais das coisas que posso ver pela janela. Das coisas que estão fora dele, porque o que está aqui dentro eu acho muito parecido comigo. E eu não gosto de mim."

"A gente sempre exige mais das pessoas e das coisas que quer bem, as que queremos mal ou simplesmente não queremos ou são indiferentes."

"As coisas e as pessoas que fazem parte da minha vida vão aos poucos entrando em mim, depois de algum tempo já não sei dizer o que é meu e o que é delas. Mesmo assim, bem no fundo, há coisas que são só minhas. E embora me assustem às vezes, é delas que mais gosto. Como essa vontade de acabar com tudo, que me dá de vez em quando."

"É fácil morrer. A toda hora, em todos os lugares, a morte está se oferecendo. Mais difícil é continuar vivendo. Eu continuo. Não sei se gosto, mas tenho uma curiosidade imensa pelo que vai me acontecer, pelas pessoas que vou conhecer, por tudo que vou dizer e fazer e ainda não sei o que será."

"As palavras traem o que a gente sente."

"Há pessoas que nascem para serem sós a vida inteira. Eu, por exemplo. (...) Freqüentemente me assusto, pensando que a vida vai acabar sem que eu encontre um grande amor ou uma grande amizade, ou mesmo uma grande vocação que justifique esse isolamento."

"O que eu queria era alguém que me recolhesse como um menino desorientado numa noite de tempestade, me colocasse numa cama quente e fofa, me desse um chá de laranjeira e me contasse uma história. Uma história longa sobre um menino só e triste que achou, uma vez, durante uma noite de tempestade, alguém que cuidasse dele."

"Mas gosto, gosto das pessoas. Não sei me comunicar com elas, mas gosto de vê-las, de estar a seu lado, saber suas tristezas, suas esperas, suas vidas."

"Não sei como me defender dessa ternura que cresce escondido e, de repente, salta para fora de mim, querendo atingir todo mundo. Tão inesperada quanto a vontade de ferir, e com o mesmo ímpeto, a mesma densidade. Mas é mais frustrante. Sempre encontro a quem magoar com uma palavra ou um gesto. Mas nunca alguém que eu possa acariciar os cabelos, apertar a mão ou deitar a cabeça no ombro. Sempre o mesmo círculo vicioso: da solidão nasce a ternura, da ternura frustrada a agressão, e da agressividade torna a surgir a solidão. Todos os dias o ciclo se repete, às vezes com mais rapidez, outras mais lentamente. E eu me pergunto se viver não será essa espécie de ciranda de sentimentos que se sucedem e se sucedem e deixam sempre sede no fim."

"Não sei se será possível à gente escolher as próprias verdades, elas mudam tanto. Não só por isso, nossas verdades quase nunca são iguais às dos outros, e é isso que gera o que chamamos de solidão, desencontro, incomunicabilidade."
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Pequenas epifanias - Caio Fernando Abreu
Epifania é a expressão religiosa empregada para designar uma manifestação divina. Por extensão, é o perceber súbito e imediato de uma realidade essencial, uma espécie de iluminação. As crônicas escritas por Caio Fernando Abreu retêm essa qualidade, levam o leitor a enxergar, como num clarão, verdades bem escondidas. Este livro apresenta uma seleção dessas epifanias.

"Quando um dia você vier a Paris, procure. E se não vier, para seu próprio bem guarde este recado: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo."
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Essa obra é a segunda incursão do autor pelo gênero romance. Tendo como coadjuvantes os universos da redação jornalística e da música popular dos anos 1980, esta ficção-verdade desvenda o desejo reprimido e o tesão liberado, a convivência com um mundo opressivo e a maneira de fugir dele.

"Devia ser sábado, passava da meia-noite.
Ele sorriu para mim. E perguntou:
- Você vai para a Liberdade?
- Não, eu vou para o Paraíso.
Ele sentou-se ao meu lado. E disse.
- Então eu vou com você."

"Tudo aquilo que eu esquecia ou negava, soube vagamente em plena queda, era o que eu mais era."

"A vida não é apagável, pensei. Nem volta atrás. Ainda não construíram a máquina do tempo. Ninguém virá em meu socorro. Faz tanto tempo que invento meus próprios dias. Preciso começar por algum ponto."

"Chegar ao centro, sem partir-se em mil fragmentos pelo caminho. Completo, total. Sem deixar pedaço algum para trás."
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Pedras de Calcutá - Caio Fernando Abreu
Escrito para a geração que cresceu amordaçada pela repressão política, 'Pedras de Calcutá' traz contos amadurecidos, mostrando os principais temas que caracterizaram obra de seu autor; a hesitação, a espera da morte, o preconceito e a paranóia. Sábia e dolorosamente, Caio mostra que viver é sofrer da vida.

"Não te tocar, não pedir um abraço, não pedir ajuda, não dizer que estou ferido, que quase morri, não dizer nada, fechar os olhos, ouvir o barulho do mar, fingindo dormir ,que tudo está bem, os hematomas no plexo solar, o coração rasgado, tudo bem..."

"E para que não doesse demais quando não era capaz de, apenas esperando, evitar o insuportável, fazia a si próprio perguntas como: se a vida é um circo, serei eu o palhaço?"

"Ele disse que era incrível assistir como as ruas iam se modificando e de repente uma casa que existia aqui de repente não ocupava mais lugar no espaço, mas apenas na memória, e assim uma porção de coisas, ela completou, e que era como ir perdendo uma memória objetiva e não encontrar fora de si nenhum referencial."
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Teatro completo - Caio Fernando Abreu
Este livro apresenta oito peças de teatro de Caio Fernando Abreu em ordem cronológica de suas estréias e acompanhadas de fichas técnicas e fotos das montagens.
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Triângulo das Águas - Caio Fernando Abreu
A janela escancarada abre-se para a noite enorme lá fora, onde ruge uma cidade estufada de rumores e procuras. Nesse ambiente, cinza e chuvoso, movem-se as personagens-zumbis de Caio Fernando Abreu.

"- Talvez seja esse o problema. Uma vida sem manhãs. Estranho é que não escolhi. Não consigo precisar o momento em que escolhi. Nem isso, nem qualquer outra coisa, nem nada. Foram me arrastando. Não houve aquele momento em que você pode decidir se vai em frente, se volta atrás, se vira à esquerda ou à direita. Se houve, eu não lembro. Tenho a impressão de que a vida, as coisas foram me levando. Levando em frente, levando embora, levando aos trancos, de qualquer jeito. Sem se importarem se eu não queria mais ir. Agora olho em volta e não tenho certeza se gostaria mesmo de estar aqui. Só sei que dentro de mim tem uma coisa pronta, esperando acontecer, O problema é que essa coisa talvez dependa de uma outra pessoa para começar a acontecer.

- Toque nela com cuidado - disse Santiago. - Senão ela foge.

- A coisa ou a pessoa?

- As duas."

"- Você sabe que de alguma maneira a coisa esteve ali, bem próxima. Que você podia tê-la tocado. Você podia tê-la apanhado. No ar, que nem uma fruta. Aí volta o soco. E sem entender, você então pára e pergunta alguma coisa assim: mas de quem foi o erro?

(...)

É preciso cuidado com o arisco, senão ele foge. É preciso aprender a se movimentar dentro do silêncio e do tempo. Cada movimento em direção a ele é tão absolutamente lento que o tempo fica meio abolido."

"Parece-me agora, tanto tempo depois, que as partidas-dolorosas, as amargas separações, as perdas-irreparáveis costumam lavrar assim o rosto dos que ficam."

"Não gosto quando a gente fica falando assim no que não foi, no que poderia ter sido. God! Não aos sábados, principalmente a noite. Não hoje, por favor, hoje não dá, eu tenho. Eu tenho uma sensação meio de amargura, de fracasso. Você me entende? Como se tivesse a obrigação de ter sido, ou tentado ser, outra pessoa."

"As pessoas suportam tudo, as pessoas às vezes procuram exatamente o que será capaz de doer ainda mais fundo, o verso justo, a música perfeita, o filme exato, punhaladas revirando um talho quase fechado, cada palavra, cada acorde, cada cena, até a dor esgotar-se autofágica, consumida em si mesma, transformada em outra coisa que não saberia dizer qual era."
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Estranhos estrangeiros e Pela Noite - Caio Fernando Abreu
Este livro é o último projeto de Caio Fernando Abreu. Reúne dois contos novos e um da década de 70, 'London, London'. Embora tenha ficado incompleto, traça um retrato inesquecível, comovente, da linhagem humana que só pode viver se for na liberdade, afastada da 'pátria' normalizadora. São contos escritos com a intransigência e a delicadeza características da prosa de Caio Fernando Abreu. Inclui a novela 'Pela noite', publicada originalmente em 1983.
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O Projeto Caio 3D organiza de forma original a obra de Caio Fernando de Abreu, uma das vozes mais singulares da ficção brasileira. Três volumes, cada um dedicado a uma década da produção de Caio, reunirão uma obra significativa do período, além de artigos esquecidos nas mais diversas publicações em que colaborou, poemas esparsos e cartas inéditas em livro. O primeiro volume, dedicado aos anos 1970, é aberto pelos contos de O Inventário do Ir-remediável e fragmentos da produção de Caio ao longo desta década.

"... sei que pretendia dizer alguma coisa muito especial pra você, alguma coisa que faria você largar tudo e vir correndo me ver..."

"Eu preciso muito muito de você eu quero muito muito você aqui de vez em quando nem que seja muito de vez em quando você nem precisa trazer maçãs nem perguntar se estou melhor você não precisa trazer nada só você mesmo você nem precisa dizer alguma coisa no telefone basta ligar e eu fico ouvindo o seu silêncio juro como não peço mais que o seu silêncio do outro lado da linha ou do outro lado da porta ou do outro lado do muro."
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O segundo volume de 'Caio 3D', projeto que organiza de forma original a obra de Caio Fernando Abreu, reúne o que essa voz singular da ficção brasileira escreveu de melhor na década de 80. A inflação de 300% ao ano e a presença da doença que o mataria mais tarde criam um contexto no qual os heróis anônimos do autor fazem todo o sentido.

"Que coisas são essas que me dizes sem dizer, escondidas atrás do que realmente quer dizer?
Tenho me confundido na tentativa de te decifrar, todos os dias. Mas confuso, perdido, sozinho, minha única certeza é que cada vez aumenta ainda mais a minha necessidade de ti. Torna-se desesperada, urgente. Eu já não sei o que faço. Não sinto nenhuma outra alegria além de ti.
Como pude cair assim nesse fundo de poço? Quando foi que me desequilibrei? Não quero me afogar: Quero beber tua água. Não te negues, minha sede é clara."

"...Temo que seja outra vez aquela coisa piedosa, faminta, as pequenas-esperanças, mas quando desvio meu olho do teu, dentro de mim guardo sempre teu rosto e sei que por escolha impossível recuar para não ir até o fim e o fundo disso que nunca vivi antes e talvez tenha inventado apenas para me distrair nesses dias..."
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Último volume do projeto Caio 3D, que organiza de forma original a obra de Caio Fernando Abreu, uma das vozes mais singulares da ficção brasileira surgida nos anos 1970. Esse livro reúne o que há de melhor na obra que Caio produziu na década de 90, além de artigos esquecidos nas mais diversas publicações em que colaborou, poemas esparsos e cartas inéditas em livro.
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Os Girassóis - Caio Fernando Abreu
Neste livro, o autor compartilha a observação da luta de um girassol para sobreviver. Com ele nos emocionamos. E nos alegramos quando o girassol consegue vencer os obstáculos e mostrar sua beleza, apesar da fragilidade. Há um motor escondido em cada ser vivo que o impulsiona e o faz lutar para cumprir seu ciclo de vida. O livro é um trecho de crônica publicada em jornais reunida por Cláudia Pacce.
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Caio Fernando Abreu: Cartas - Caio Fernando Abreu
Caio Fernando Abreu escreveu uma infinidade de cartas. Da carta à crônica, desta à ficção e ao teatro, traçou a poética do existir de toda uma geração. Este volume reúne uma seleção de sua correspondência para familiares, amigos íntimos como Luciano Alabarse, Gilberto Gawronski, Marcos Breda, José Márcio Penido, Déa Martins, Luiz Arthur Nunes, Maria Lídia Magliani, Jacqueline Cantore e escritores e artistas queridos como Maria Adelaide Amaral, Adriana Calcanhotto, Regina Duarte, Bruna Lombardi, Mário Prata, Hilda Hilst e João Silvério Trevisan, entre outros.

"A solidão às vezes é tão nítida como uma companhia.Vou me adequando,vou me amoldando.Nem sempre é horrível.às vezes é até bem mansinha.Mas sinto tão estranhamente que o amor acabou.(...)Repito sempre:sossega,sossega - o amor não é para o teu bico."

"E uma compulsão horrível de quebrar imediatamente qualquer relação bonita que mal comece a acontecer. Destruir antes que cresça. Com requintes, com sofreguidão, com textos que me vêm prontos e faces que se sobrepõem às outras. Para que não me firam, minto. E tomo a providência cuidadosa de eu mesmo me ferir, sem prestar atenção se estou ferindo o outro também. Não queria fazer mal a você. Não queria que você chorasse. Não queria cobrar absolutamente nada. Por que o Zen de repente escapa e se transforma em Sem? Sem que se consiga controlar".

"Malas, hotéis. E os amigos, cadê? Você foi lindo comigo. E distante. Me deu apoio, não o ombro. Queria tanto ter chorado a dor enorme de POA e a velhice de meus pais no Menino Deus no ombro de um amigo. Não temos tempo: somos maduros. Onde será que isso começa?"

"no meu demente exercício para pisar no real, finjo que não fantasio. e fantasio, fantasio. até o último momento esperei que você me chamasse pelo telefone. que você fosse ao aeroporto. casablanca, última cena."

"Acho que sou bastante forte para sair de todas as situações em que entrei, embora tenha sido suficientemente fraco para entrar."

"Quem diria que viver ia dar nisso?"

"Será que, à medida que você vai vivendo, andando, viajando, vai ficando cada vez mais estrangeiro? Deve haver um porto."

"Penso, com mágoa, que o relacionamento da gente sempre foi um tanto unilateral, sei lá, não quero ser injusto nem nada - apenas me ferem muito esses teus silêncios."

"Não é verdade que as pessoas se repitam. O que se repetem são as situações."

"Mas eu nunca quis ser gostado por aquilo que não sou ou aparento ser."

"E se é verdade que o tempo não volta, também deveria ser verdade que os amigos não se perdem."

"Algumas vezes eu fiz muito mal para pessoas que me amaram. Não é paranóia não. É verdade. Sou tão talvez neuroticamente individualista que, quando acontece de alguém parecer aos meus olhos uma ameaça a essa individualidade, fico imediatamente cheio de espinhos - e corto relacionamentos com a maior frieza, às vezes firo, sou agressivo e tal. É preciso acabar com esse medo de ser tocado lá no fundo. Ou é preciso que alguém me toque profundamente para acabar com isso."

"Ando meio fatigado de procuras inúteis e sedes afetivas insaciáveis."

"Meu coração tá ferido de amar errado."

"Acho espantoso viver, acumular memórias, afetos."

"Que te dizer? Que te amo, que te esperarei um dia numa rodoviária, num aeroporto, que te acredito, que consegues mexer dentro-dentro de mim?"

"Eu já estou tão acostumado de me contar inteiramente a alguém, tão desacreditando na capacidade de compreensão do outro."

"Tô exausto de construir e demolir fantasias. Não quero me encantar com ninguém."

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kathyGabihelôLuckyGabyPatrícia Freire.Nonfictionguy
De todos escritores, o meu predileto. Preciso acrescentar outras obras dele no listal, mas este espaço é só dele. (:

Observação: Esta lista passa por modificações com frequência. Quanto mais trechos, melhor. ,)

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