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Remake da resenha de Irmãos Karamazov

Refiz minha resenha de Irmãos Karamazov porque a primeira ficou meio ruim com o tempo então estou aqui para revisar novamente a minha obra favorita da ficção:  Irmãos Karamazov é sem sombra alguma de dúvidas a obra prima máxima da literatura, por razões que variam de pessoa pra pessoa, para Freud os personagens representam os modelos psicológicos mais profundos, para Sartre representa a base do existencialismo, para Camus representa o pico sobre as dúvidas e questões existenciais e sobre o valor da vida, para Nietzche era ambos, é uma virtude que poucos autores conseguiram que é encantar mesmo aqueles que estão distantes ideologicamente de Dostoyevsky sendo recomendado inclusive por autoridades católicas. Irmãos Karamazov é uma dessas obras que te marcam, digamos assim que há uma variedade de obras que podem sim causar reflexões, ideias e etc mas poucas realmente tem o poder de te lapidar como pessoa reformando os seus conceitos de vida e fé, antes de Dostoyevsky eu posso dizer que tinha uma visão bem simplória da realidade e um tanto materialista, isso mudou com obras como O Idiota, Memórias da casa dos Mortos e Notas do Submundo. Irmãos Karamazov nos ensina sobre o valor da vida, o valor de Deus e de como o amor ao próximo é a peça vital que une a ética a metafísica a outras questões e sobre como a falta do mesmo resulta em um caos, como ele mesmo refere "não há ética em um lugar onde não há amor" e vemos no romance a aplicação prática de tudo isso, no romance conhecemos a família Karamazov, uma família quebrada com o patriarca Fyodor sendo um canalha mesquinho e uma das representações mais puras de uma alma sem amor ao próximo que vive para realizar os próprios prazeres em detrimento de tudo ao seu redor, Fyodor é um personagem hedonista, preguiçoso, rancoroso e mesquinho, tudo o que ele faz é para si, uma pessoa repugnante que já perdeu totalmente a fé e a ética.





Temos também Dimitri, que é o mais velho, um caso parecido a seu pai, igualmente hedonista e com impulsos violentos, Dimi é mais uma vítima da má criação de Fyodor do que qualquer coisa, vítima do alcolismo e dos jogos Dimi é na história a representação da falta de direção, é uma boa pessoa mas que tomou muitas decisões ruins na vida, ele também representa uma parte da vida do próprio Dostoyevsky, uma parte de sua vida onde ele caiu no vício dos jogos, do álcool e de mulheres ruins que inclusive é representado em seu outro romance "O Jogador"(outra pérola dele). Dimi é nesses detalhes um personagem trágico que de certa maneira representa a falta de um rumo, de um destino ou de algo além para se guiar, tipos como o dele são bastante comuns nos homens de hoje e também de ontem.

Temos também Ivan Karamazov que representa toda essa tendência racionalista do final do século 19, um ateu convicto e o mais introspectivo dos outros irmãos, Ivan tem um modo de agir menos impulsivo e mais racional, igual não acredita na ética e as suas ideias influenciam nos acontecimentos da segunda parte do livro, Ivan é o que melhor representa essa ideia nietzcheana de buscar um sentido que esteja acima do transcendente, a reencarnação filosófica do ubermensch apesar de que na prática ele não tenha feito em vida nada de relevante e até se arrepende no fim, um personagem dostoyevskiano que parece ter inspirado seu personagem é o narrador de Memórias do Subsolo ou Memórias do submundo, em Memórias do submundo temos um protagonista que não acredita em nada, nem na religião nem na ciência e que não crer em nada que não seja o seu próprio ego, uma representação ficcional das ideias de Max Stirner e do egoismo racional que vinha ganhando força com figuras como Piotr Kropotkin e etc. Ivan ao que parece é uma progressão disso, uma evolução, alguém que sofria por questões existenciais e que busca durante parte da obra transcender esse estado de inércia e falta de sentido, é como o protagonista de Taxi Driver misturado com outros vários personagens da literatura não ironicamente. Pode-se considerar Ivan como a evolução de Raskolnikov e um dos personagens mais complexos da ficção.

Por fim temos Alyosha ou Aleksei que representa a conexão com o passado cristão da Rússia, um passado que pouco a pouco é consumido pelas ideias seculares, uma Rússia que aos poucos vai se perdendo e sendo consumida pelos próprios erros que se repetem de forma ciclica. Alyosha é o irmão mais novo, cristão, no sentido mais amplo da palavra, uma pessoa gentil, honesta e mansa de coração, o personagem mais são do romance, um genuíno sofredor que tem a árdua tarefa de aturar seus irmãos. Alyosha é um modelo de santidade puro e simples, um personagem similar ao príncipe Myshkin do romane "O Idiota" um dos melhores romances sobre o cristianismo jamais escrito. Alyosha em momento algum julga seus irmãos mesmo sabendo o quão desvirtuados eles estão, tal como Cristo, sofrendo por vezes um martírio autêntico tendo até certos sintomas de autismo, podemos assim dizer que ele é o heroi dessa trama obscura, uma luz no meio das trevas, um indivíduo que não se deixou ser contaminado pelo meio, que buscou a o caminho da espiritualidade, é um engano ver Alyosha como uma propaganda cristã porque de modo algum ele é beneficiado por ser cristão, Dostoyevsky nos mostra através de Alyosha que ser cristão é um imã de problemas, em um mundo sujo, podre e corrompido a inocência e a bondade sobrevive a duras penas. Para quem é cristão Alyosha representa talvez o modelo mais próximo de santidade. Alyosha diferente de Ivan não busca uma lógica para as suas ideias, ele apenas sente que agir assim movido pela fé.

Temos outros personagens também como suposto quarto irmão, Smerdyakov, um personagem obscuro e talvez o mais difícil de digerir, encontro nele algo como uma forma melhorada do corcunda de Notredame, na obra de Vitor Hugo faltou esse aspecto psicológico e funesto que há em Irmãos Karamazov. Pra começar que Smerdyakov é fruto de um estupro praticado por Fyodor em uma moradora de rua que sofria de problemas mentais, ele é o mais recluso e com vários problemas de saúde, alguns dizem que ele representa a parte malígna de Dostoyevsky, a parte que ele quer esquecer, a parte que de acordo com a análise de Freud(análise bem contestada diga-se) ele representa Dostoyevsky e sua relação com o seu pai(que era péssima diga-se) ao que diz Freud Smerdyakov é Dostoyevsky, se caso ele tivesse seguido outra carreira, um sujeito doente, baixo, feio e que odeia seu próprio pai. Eu tendo a enxergar além, vejo que o personagem do Smerdyakov é uma denúncia a miséria e as péssimas condições da época, tanto a história de sua mãe quanto a sua própria, é o personagem mais obscuro do romance. Smerdyakov representa no geral a revolta dos miseráveis.

Temos outros personagens também como o tio Gregorio, outro exemplo de cristandade e por fim temos Starietz Zósima que é a voz ideológica do romance, Zósima acredita em uma ideia religiosa proveniente da igreja ortodoxa russa, uma ideia de entrega a Cristo, de que o sofrimento purifica e que nos aproxima de Deus, basicamente ele é o vínculo que liga diretamente às antigas tradições religiosas que foi se perdendo com o secularismo. Como um padre que tem contato direto com a pobreza e o sofrimento da população miserável da época, sendo tanto em aspectos objetivos como teóricos um teólogo. Sua teologia se assemelha um pouco com a teologia agostiniana com toques de misticismo russo. Isso é uma das características de Irmãos Karamazov, é mais que apenas um romance comum da época, é um genuíno retrato da Rússia pré-revolução, um lugar de muita pobreza, crimes, violência, alcolismo, misticismo religioso e abandono geral, isso é bem fácil de analisar quando você lê outros autores como Sholokov, Gogol, Andreyev e etc, a Rússia é um país com uma história milenar interessantíssima e ao mesmo tempo trágica.

Mas afinal, sobre o que é Irmãos Karamazov? Até aqui falei apenas sobre os personagens, mas sobre o livro em si? Podemos dizer que Irmãos Karamazov é sobre o valor do transcendente na humanidade e sobre como estamos perdidos sem ele, a necessidade do metafísico, também é um romance social que denuncia muitas coisas tristes e obscuras, uma obra antiescapista também porque se analisarmos cada personagem busca encontrar em mundos imaginários uma fuga para a tristeza em que cada um vive, também é um romance religioso que também é um romance existencial pela quantidade diálogos e questões que são debatidas a exaustão pelos personagens. Esse livro também nos coloca para refletir sobre a humanidade, sobre a natureza humana e sobre como podemos nos tornar prisioneiros de nossos vícios, paixões e ideias, que mesmo nas trevas é possível encontrar a luz que viver é sofrer e sofrer é viver e o sofrimento purifica o espírito.
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Added by Magnifik
1 year ago on 10 March 2023 01:12

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