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Reflexões sobre a humanidade e a mentalidade revolucionária:
Estava relendo alguns trechos desse livro que é o meu favorito de toda a literatura que consumi até aqui e me deparei com um trecho no mínimo interessante e que me passou desapercebido, bem no começo quando o padre Zósima ouve a confissão de uma mulher que diz amar a humanidade mas detesta o próximo de forma individual. A tal mulher argumenta que os seres humanos de forma individual são egoístas e detestáveis. Dostoyevski acreditava que o amor pela humanidade somente pode existir em base a ideia de uma imortalidade da alma, um conceito muito amplo e que se aplica tão somente em um contexto espiritual. Dostoievski argumenta através dos seus personagens que a exclusão da ideia de Deus só poderia se degenerar em duas posições, o primeiro é o egoísmo racional que é a tese central do filósofo alemão Max Stirner que afirmava que todos somos egoístas pois todos temos uma verdade própria e que mesmo líderes e pensadores coletivistas tinham para si próprios a sua própria verdade tornando-os por consequência tão egoístas quanto os individualistas. Basicamente Stirner nos diz que todos temos uma verdade própria e que devemos lutar por essa verdade dê no que dê e que o coletivismo não existe, bem antes de Nietzche com esse recebendo o crédito por essa teoria. O outro lado da negação ao espiritual seria o socialismo. Em uma passagem do livro o autor afirma que Alyosha, um dos personagens centrais do romance seria se não fosse a sua fé inabalável um socialista por amar de todo o seu ser a humanidade apesar dos seus erros.
Todavia como vemos ao analisar a obra de Dostoievski ele contrapõe esse argumento através de vários dos seus personagens como por exemplo em um dos seus contos ele narra a história de um sujeito burguês que tomado por amor a humanidade decide se misturar entre os pobres para provar que ama a humanidade, o sujeito é então tomado por um estado de soberba onde passa a detestar e ser totalmente os seres humanos de forma individual ainda que negue seu idealismo anterior. Um exemplo do que essa tal mentalidade revolucionária foram os casos das ideologias comunistas enquanto que as teses de Stirner se materializavam nos movimentos nazi-fascistas e liberais, o exemplo do socialismo revolucionário se revela na forma do comunismo bolchevique que se expande para o maoísmo chinês até o bolivarianismo latino-americano. Assim conseguimos através de um simples diálogo traçar um paralelo entre a confissão da mulher e as teses revolucionárias tendo em vista que por mais bem intencionados que esses movimentos tenham sido na teoria na prática se revelaram em vários dos piores crimes que já se ouviu falar. Em busca de salvar a humanidade vários crimes contra essa humanidade foram cometidos. Dostoievski acreditava e expressa através do seu personagem Zosima que o sofrimento e as tristezas no mundo material são irremediáveis e que sempre haverá sofrimento mesmo quando chegarmos a um estado de evolução científica absurda, ele previra em um dos seus romances que mesmo que tudo seja regido pela ciência o ser humano ainda sim por uma motivação que ninguém sabe e que nasce do tédio seria conduzido a destruir tudo e que nenhuma utopia funcionaria na terra porque a própria condição humana de morte é contrária a essa realidade. Hoje sofremos com os problemas da mente em uma sociedade atomizada e individualista. Desde um espectro religioso cristão o sofrimento é parte inerente de ser pecador, o pecado gera sofrimento, maldita é a terra por tua culpa diz Deus a Adão antes de condena-lo a viver na terra. O padre Zósima e aqui reflete-se uma ideia cristã, acredita que existe beleza no sofrimento e na imperfeição quando atende um pouco antes uma mulher que havia perdido o seu filho tão jovem dizendo "você pode chorar porque as lágrimas são vistas por Deus e recompensadas com tesouros no céu"
