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Russia review
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REVIEW DA LITERATURA RUSSA PARTE 1

Falar sobre a Rússia é sempre interessante não só pela história rica e conturbada dela como também é pela ampla gama de artistas e escritores desse povo, sendo Moscou considerada a capital da literatura, o que pode gerar controvérsias entre aqueles que não apreciam tanto o amplo arsenal artístico desse país. Pessoalmente acho a Rússia o país mais fascinante em termos tanto artísticos como histórico já que é um país que passou por inúmeras tragédias e fatos sombrios como as revoluções comunistas do século 20. Contudo nessa análise tentarei me deter em comentar mais o aspecto artístico-literário e algumas explanações a respeito do cenário cultural e intelectual da Rússia nos séculos 19 e início do século 20, gerando uma espécie de revisão, bem como apontamentos sobre o panorama geral dos escritores e artistas russos. Falar de literatura russa é sempre fascinante, eles produziram vários dos melhores escritores que já existiram como Dostoyevsky ou Tolstoy, sempre explorando um lado mais psicológico e mais humano abordando temas realmente relevantes como o niilismo, determinismo, socialismo, teologia e etc. Parte desse brilhantismo descende da Europa de escritores como Lorde Byron ou Goethe que influenciaram grandemente o primeiro nome dessa lista;

Aleksander Pushkin: considerado pai da literatura russa, descendente de escravos africanos Pushkin cresceu sob forte influência do romantismo britânico onde veio a escrever algumas obras que foram essenciais para fundamentar as bases do que viria a ser a literatura russa como Eugene Onegin e a Dama de espadas, que dando spoilers, viria a inspirar obras de peso como Crime e Castigo de Dostoyevsky. Sua escrita como já referi, tem raízes no romantismo britânico semelhante a coisas como Shakespeare ou o Byron sendo em termos mais simples muito mais um poeta que um romancista, de caráter mais liberal tendo inclusive participado de movimentos anti-czar como o movimento dos "dezembristas".

Eugene Onegin e O Tiro

Sobre as suas obras, temos Eugene Onegin que conta a história de um dandi (cavalheiro nobre) que sofre com alguns problemas existenciais como o tédio e a falta de prazer nas coisas, Onegin pode ser descrito como um leve retrato da aristocracia russa, onde nos coloca na pele de um sujeito egoísta, cínico e vaidoso, indiferente as pessoas, seu final é trágico e cabe uma certa análise; a morte de Lensky pode representar a morte da sinceridade em Onegin. É inclusive por essa acidez em relação a nobreza que fez Pushkin ser usado pelos bolcheviques como propaganda contra a elite. Seus outros trabalhos apesar de não serem tão complexos são dignos de menção, obras como "O Tiro" que narra alguns temas como o orgulho ou a humilhação que seria ampliada em obras mais robustas como "O Idiota". Também temos obras como a "A dama de espadas" que narra a história de um alemão que fica encantado com algumas capirotagens de uma condessa e planeja descobrir esses segredos no entanto as coisas terminam mal. A dama de espadas é mais um experimento que serviria de inspiração para obras mais complexas com Crime e Castigo. Apesar de não ser o autor mais transcendental Pushkin foi quem logrou sedimentar um espaço para a Rússia no cenário literário europeu, seu fim, apesar de irônico carrega consigo um grande legado(a saber ele morreu em um duelo, tema recorrente em sua obra) tal como Shakespeare, Camões ou Homero. Ele também solidificou um formato de história que influenciou o próximo sujeito da lista;


Pobre Liza:

Antes de falar dos gigantes da literatura russa cabe também dar um lançar um olhar sobre os autores precursores do realismo, dentre eles consigo citar Nikolai Karamzin e a sua novela breve intitulada de "Pobre Liza" que narra a história de uma menina gentil e dócil que vive na pobreza da Rússia sendo tão boa de coração se apaixona por um soldado que logo é convocado a lutar pela pátria. Nesse romance de formação de Karamzin encontramos dois elementos que imperam, o primeiro é uma visão humanista fortemente influenciada pelos romances sociais tais como "Os Miseráveis" de Vitor Hugo. No romance de Karamzin também impera o uso de elementos como a dramatização sucessiva dos personagens remanescentes do romantismo inglês de Byron. Se fosse para catalogar "Pobre Liza" diria que é um protótipo de romance social já que cabe recordar que o autor do romance era um iluminista.

Contos de Afanasyev

Outro sujeito que cabe ao menos uma mensão vaga e digo vaga pela dificuldade de encontrar material a respeito é Alexander Afanasyev, um dos mais importantes contistas da Rússia, fora dele que saíra contos como Baba Yaga e Vasiliza a Bela, tal como Liza de Karamazin a Vasiliza a Bela é uma obra com muita idealização e um tom aqui e ali de crítica social, algo que podemos notar nesse estado primordial da literatura russa é uma certa idealização da figura feminina como o apogeu da inocência e da pureza de espírito, um prato cheio para os apoiadores das teses fruedianas. Ainda não havia pois um elemento cientificista e possuía toda uma atmosfera remetente aos contos anglo-germânicos como os Irmãos Grimm com uma lição ou as vezes sem lição os contos contavam com uma caracterização básica com lições simples para as crianças. Essa fase contudo nos remete aos primórdios da literatura russa, foram os contos de Afanasyev e o romance Social Pobre Liza que introduziram algumas tendências que seriam aprimoradas por outros contistas.


O Capote e O Diário de um Homem Louco:

Nikolai Gógol e o humor trágico: seguindo a linha temos Gógol que é sucessor de Pushkin em termos de escrita, ele aprofundou aquilo que Pushkin vinha desenvolvendo em sua obra, com tons mais críticos em relação a classe mais baixa denunciando a mediocridade, falta de empatia e cinismo, o que não quer dizer que ele era algum tipo de classista ou algo do tipo, ele em verdade estava criticando esse estilo de vida medíocre que os russos levavam, um exemplo disso é "o capote" sua obra mais famosa que retrata a vida medíocre de um conselheiro titular copista chamado Akaki Akakievitch(nome ruim) um homem medíocre e sem graça, foi funcionário público durante toda a vida até que decide comprar um capote caro juntando vários anos de dinheiro. Esse romance é mais uma denuncia sobre as péssimas condições que viviam e a mediocridade do pensamento médio, Akaki morre terrivelmente e volta para se vingar como fantasma, sendo essa a parte cômica dessa história, um humor sadista e que sinceramente me agradou bastante pelo grotesco e irônico que é, assim é muita de suas obras como o "diário de um homem louco" onde é abordado a questão das doenças mentais de um esquizofrênico que crer ser o rei da Espanha, sua mistura entre os tons de humor e tragédia são bem construídos apesar de que em geral sua obra carece de um maior aprofundamento filosófico e psicológico, contudo foi graças a sua obra que outros autores conseguiram tirar a base para coisas mais complexas como "A Morte de Ivan Illytch" de Tolstoy. Como diria Dostoyevsky "todos viemos de O Capote" referindo-se a literatura russa já que sua obra influenciou vários outros como Ivan Turgueniev, Maiakóvski, Tolstoy,Tchekhov, Gorki e etc.


Almas Mortas resenha:

Gogol é um autor do meu gosto, me agrada quase todos os seus trabalhos e é um dos autores que facilmente poderia encaixar em um top 10, suas obras em geral tendem a se concentrar mais no aspecto satírico e escrachado do qual usa para criticar e desdenhar de certos aspectos da sociedade russa do século 18, usando de um humor negro e de absurdismos sem ser vulgar ou demasiado grotesco. A sua crítica ao funcionalismo público também é bastante contudente, principalmente em torno dessas figuras tão nefastas que são os funcionários públicos, o autor também tem uma crítica minuciosa sobre a responsabilidade pessoal e sobre a mediocridade, que realmente deverias levar em conta, as histórias de Gógol dispensam figuras de linguagem rebuscadas ou simbolismos high iq, suas histórias pegam mais pelo sentido de humor que qualquer outra coisa, suas histórias são as mais engraçadas que já li, sobre um homem que perdeu o nariz ou sobre um homem que finge ser uma celebridade enganando toda uma cidade, e aí poderia me estender falando e falando das qualidades do autor.

Gógol só não foi melhor simplesmente porque esteve em um período onde a literatura da Rússia estava em processo de formação, com isso não significa que estou de alguma forma menosprezando a pré literatura, é só que as histórias nesse período eram mais simples e giravam em torno de alguns contos folclóricos, isso veio a mudar com Pushkin e Gogol que estabeleceram com bases firmes essa literatura, que viria a ser aprimorada por figuras como Dostoyevsky, Tolstoy e Bulgakov e uma série de outros. Um ponto interessante das críticas que Gógol fazia é que jamais foi reprimido pelo Czar e muito pelo contrário recebeu inclusive proteção do mesmo, nesse sentido o império russo foi um bocado mais tolerante que o regime bolchevique mais que nada porque o país passava por algumas reformas liberais que visavam dar um ar mais francês revolucionário e uma tentativa de tirar essa impressão de que a Rússia era um país medieval e camponês, com isso em mente o regime do Czar com o passar dos anos se tornou mais tolerante com as ideias vindas do ocidente.

Sempre que leio um Magnum opus ou um trabalho final de um autor me bate um sentimento estranho e sentimental como se estivesse tentando ver coisas além, foi assim com Irmãos Karamazov, mais que nada porque era a última obra de Dostoyevsky antes de morrer e assim é Almas Mortas, a última obra de Gógol, um dos livros mais importantes da literatura mundial, que é a conclusão de um projeto que a tempos o autor vinha matutando até que no verão de 1842 finalmente concluiu, ou não. Almas Mortas é um ode ao melhor e o pior do que há no homem russo, uma genuína representação psicológica e comportamental, seguindo a história de um homem mau caráter, hipócrita e enganador que é Tchitchikov, o personagem principal, Tchitchikov é um servidor público que foi afastado por corrupção e que viaja pela Rússia a procura de aumentar a sua fortuna. Desde já um aspecto que posso observar dessa narrativa é a sua maestria em descrever cenários, um detalhismo que passa uma sensação de vividez mais ampla, um exemplo disso é a cena das moscas entrando na sala de Tchitchikov, uma cena que facilmente ficou marcada na minha cabeça, sentia quase como se já tivesse tido essa memória em algum lugar de tão real e vívida.

Elogio de escrita à parte o que há de bom em Almas Mortas no que concerne a roteiro? Bom o protagonista se sobressai sobre os outros personagens mais pela sua complexidade que qualquer outra coisa, os outros personagens estão aí mais para complementar Tchitchikov que qualquer coisa, suas interações são interessantes como forma de explorar o caráter de Tchitchikov que não é um absoluto canalha, tendo partes boas para contrastrar com as ruins, ele é misógino ao mesmo tempo que é benevolente com os servos. O autor frequentemente usa a narração em terceira pessoa para detalhar mais os outros personagens, algo mais próximo do que Balzac fazia na sua obra. Para um livro de Gógol é uma narrativa bastante madura, algo que contrastra com o que eu já disse até aqui do autor. O texto também está cheio de trechos sobre Deus, família, amor ao próximo, caridade, natureza humana e mais e assim como Irmãos Karamazov possui um ar de inconclusivo porque essas questões não se baseiam na lógica positivista objetiva mas sim em algo metafísico, algo muito mais reflexivo que teórico e formulaico. Isso é uma forma de transfigurar o texto para uma configuração mais filosófica e realmente pode ser em alguns momentos.

Em geral me agrada muitos aspectos dessa narrativa e possui material de um 8/10 ou mesmo um 9/10 o que tristemente não é o caso porque se já pesquisaram a história desse livro já devem saber que ele está incompleto, inconcluso porque o autor simplesmente decidiu queimar a segunda parte por ordem de um religioso e creio firmemente que foi um erro porque não havia nada de malicioso ou anticristão ali, simplesmente havia um relato de um tipo de indivíduo comum na antiga Rússia.

O próximo livro de Gógol tem um ar Ghoetiano e bem pouco a ver com comédia, trata-se de "O retrato" escrito logo após o inspetor geral conta a história de um artista que hipinotizado por uma máscara que interage e fala com o artista, o convence a vender sua alma em troca de dar a ele o sucesso e a fama, o artista aceita e vive uma vida de luxo e bonança econômica mas tendo que ver o seu sonho sendo subvertido por uma ideia vaga e que agradava apenas as massas, seu sofrimento aumenta quando vê um artista jovem que crescia e fazia sucesso de forma honesta sem ajuda do diabo e é então que o artista se arrepende de ter feito o pacto. O mais fraco dos contos de Gógol ainda sim carrega uma áurea de reflexiva com tons faustianos. É uma fábula interessante sobre o valor da arte e sobre como não devemos corrompe-la com interesses mesquinhos e consumistas. O outro conto de Gógol que merece destaque desde já é "O nariz" mais que nada pelo sentido puro e genuíno do humor, nesse conto é relatado como o nariz de um funcionário público ganha vida e foge do rosto do homem, o homem desesperado corre atrás de encontrar o maldito nariz passando por jornais e até na polícia sendo ridicularizado pela história bizarra e totalmente esquizofrênica, aqui Gógol também aproveita para alfinetar os funcionários públicos como é de prache zombando do pobre protagonista. O nariz assim como O Capote formam parte das histórias mais cômicas e com um sentido de humor bastante refinado e abrangente já que a obra de Gógol se popularizou tanto entre os plebeus quanto entre os nobres da época.


Guerra e Paz:

Tolstoy e a paz na guerra: com Gógol e seu celebre romance "Almas Mortas" é inaugurado uma nova era no cenário literário russo, a Golden Age da literatura iniciou com Gógol e seguiu até Tolstoy em seu célebre livro "Guerra e Paz" que narra as batalhas napoleônicas na Rússia, o romance gira em torno de Pierre Bezukhov que após receber uma fortuna de herança é obrigado a lidar com as responsabilidades desse status social, passando por dilemas filosóficos e espirituais se aliando até a franco-maçonaria, Pierre, se depara então com o fantasma da guerra, seu amigo Andrei Bolkonsky(importante personagem) se decepciona com o mundo após se ferir gravemente, caindo em uma espiral de niilismo. Enquanto isso a batalha entre as tropas de Moscou e as tropas de Napoleão, liderados por Mikhail Tukuzov(general da vida real) os russos conseguem vencer os invencíveis franceses. Para contextualizar melhor, esse romance é um livro histórico sobre as guerras napoleônicas com foco na invasão à Rússia durante o reinado de Alexandre primeiro da família dos Romanov. Nesse período conturbado, a frança vinha através de Napoleão Bonaparte, derrubando monarquias com intenções de estabelecer um governo mundial sobre os ideais revolucionários de liberdade, igualdade e fraternidade, ideais que colocaram abaixo a monarquia de Luís xvi e que estabeleceram uma nova era na humanidade que seguiria pelo caminho do racionalismo, antropocentrismo e "igualdade social" os lemas da nova ordem mundial. Como boa parte da Europa havia sido anexada pelos franceses, restava o inimigo mais forte, os ingleses que são geograficamente separados da Europa, em retaliação aos embargos econômicos e bélicos dos ingleses à França, Napoleão ordenou a todos os países um bloqueio de exportações para a Inglaterra, que ficou conhecido como o bloqueio continental, vendo que seria seriamente prejudicada a Rússia decidiu não aderir ao bloqueio o que serviu de motivo para que Napoleão e suas tropas invadissem a Rússia. Outros países como Portugal também decidiram negar o bloqueio econômico imposto pela França, o que ocasionou o envio de tropas para Lisboa obrigando o rei Dom João Sexto a evacuar estrategicamente para o Brasil, sua colônia na época, para evitar ser deposto, o que poderia invalidar o reinado sobre a colônia brasileira, fortalecendo suas tropas. Enquanto as tropas de Napoleão avançam até Moscou sem muita resistência, os campos e colheitas eram devastados pelos próprios russos, a famosa tática da terra arrasada, uma estratégia criada pelos citas contra o rei Dario e que foi aplicada por Tukuzov e com a ajuda do inverno, as tropas napoleônicas foram reduzindo-se até a batalha de Borodino onde as tropas de Tukuzov enfrentaram os franceses e empataram provocando inúmeras mortes, apesar do empate, os russos saíram moralmente vitoriosos já que acreditava-se impossível vencer o exército francês. O romance de Tolstoy logra retratar historicamente várias batalhas desse período, narrando o cotidiano dos soldados com uma certa exploração psicológica sendo o maior épico dos tempos modernos. É um dos livros mais importantes da história.


A Morte De Ivan Illytch:

A morte de Ivan Illytch foi outro grande trabalho de Tolstoy e um dos mais obscuros, que narra a história do juiz Ivan Illytch que após se ferir gravemente acaba ficando acamado passando seus últimos dias em uma espécie de transe refletindo sobre toda a sua vida, tocando temas como a responsabilidade pessoal, sentido da vida, falta de amor e futilidade com Ivan Illytch chegando a conclusão final de que viveu sua vida erroneamente, sendo um homem frio em um emprego que ele odeia, com uma esposa que não o ama sem ter aproveitado nada da vida, é um relato angustiante e uma crítica ao funcionalismo público altamente influenciado pelo "Capote" de Gógol, na verdade poderia considera-lo a versão definitiva de "O Capote". Considero essa sua melhor obra.

segue a resenha:

A morte de Ivan Ilyich, uma novela ou conto, não sei, escrito pelo romancista russo Liev Nikolaevitch Tolstoi ou apenas Tolstoi, conta a história de um juiz de alta corte que está morto, bom essa é a primeira parte do livro, na segunda parte o personagem de Ivan é caracterizado como personagem, é um livro estilo Memento Mori, uma reflexão sobre a vida e a morte, abordando temas como o comodismo e insensibilidade, estagnação e tanatofobia, sendo um dos mais memoráveis livros do autor. Sem dúvidas a literatura russa é famosa pelas tragédias e histórias impactantes, toda a obra de Dostoievsky por exemplo, estão sempre relatando algo relevante, com grandiosos estudos de personagem, um exemplo do que falo é Memórias do Subsolo, um livro sumamente reflexivo que conta com vários temas sobre o existencialismo ao mesmo tempo que é um estudo de personagem.

Bueno, não querendo desviar do foco, como já devem saber, o fato de ser famoso pouco importa se o conteúdo do livro é inútil ou se está promovendo ideias ruins e anti-pragmáticas, não é o caso do livro, estamos falando de uma história sobre um funcionário público que passou sua vida estagnado e inerte em relação ao mundo, procurando viver de medíocre sem perspectiva de subir de nível ou grandes aspirações, com uma mulher insensível e amargurada com filhos devassos que não ligam para os pais, um círculo de mediocridade e passividade, com amigos que não se importam sendo Ivan Ilych alguém profundamente solitário e vazio. O auge do livro consiste quando Ivan Ilych se fere e cai enfermo com dores acreditando ter sido acometido por uma doença terminal, seu sofrimento é alargado e mesmo com os melhores médicos não consegue conter as dores, é então que o personagem começa a refletir sobre sua vida, sobre seus erros, acertos, arrependimentos e etc. Chegando a triste conclusão de que sua vida não valeu a pena, entrando em uma profunda tristeza.

A tristeza de Ivan é atenuada quando um jovem empregado passa a cuidar dele, o jovem, vibrante e feliz também é uma das causas da tristeza de Ivan, já que o mesmo vê no jovem aquilo que queria ter sido, Ivan durante toda sua vida foi alguém insensível e nunca amou ninguém de verdade, estando preso em uma rotina de comodismo e desesperança. A parte crítica do livro consiste em que Ivan, perdido em uma rotina monótona e sem sal, termina desperdiçando toda sua vida, coisa da qual ele mesmo foi o responsável, sendo insensível e um exímio comodista, Ivan se dá conta disso, no entanto era tarde demais, a morte já havia chegado para ele, nos mostrando que não somos imortais e o que fazemos tem consequência e que o tempo não retorna, a lição do livro, dada de forma bem amarga, é que não devemos ser comodistas, estáticos, monótonos porque isso leva à mediocridade e a um profundo e repentino arrependimento. Quantas coisas não deixamos para depois ou simplesmente não fazemos porquê nos parece difícil ou fora do status quo? De forma simples e direta, Ivan Ilyich ao final se arrepende de ser tão acomodado, de ter negligenciado o amor aos seu filhos e esposa.


Sonata Kreutzer:

Sonata Kreutzer é um romance pouco conhecido e pouco difundido de Tolstoy que dentre outras temáticas logra discorrer sobre o direito feminino e o roll da mulher na sociedade, uma discussão que estava ganhando força na Europa com os movimentos femininistas. Simplesmente não quero falar sobre o que se tornou esse movimento na atualidade, sobre o livro em si é um tanto confuso o que o autor quis passar ou transpassar, ao mesmo tempo que é uma história sobre feminismo também é uma história sobre um assassino que mata a sua mulher simplesmente por não lhe agradava com justificativas uma mais tosca que a outra fazendo certas divagações em forma de confissão. Como monólogo e ensaio sobre questões do papel da mulher na sociedade é um bom estudo, no que tange a escritura é um livro para lá de tedioso, sem dúvidas possui esse ar de livro culto e intelectual e até em termos de plot há algo de interessante sendo um caso de assassinato relatado em forma de monólogo todavia falha em construir uma atmosfera interessante em torno do caso. Falha porque Tolstoy queria por assim dizer relatar a monotonia da vida conjugal da forma mais realista e palatável aos leitores possível, creio pois que sem erro de todas as novelas de Tolstoy essa uma das mais fracas.

Felicidade Conjugal e O diabo

Vimos em Sonata Kreutzer, em Ana Karenina e até mesmo em Guerra e Paz que a vida conjugal é algo que fascína Tolstoy, sobretudo casos de traição, especialmente casos de traição, em felicidade conjugal conhecemos a história de uma mulher amargurada e cínica que vive uma entre muitas aspas "vida perfeita" com o seu marido que é outro cínico distante e frio. Esse livro parece-me sobretudo um livro paralello A Morte de Ivan Ilytch narrado desde a perspectiva de uma esposa fria e sombria que esconde vários pensamentos distorcidos e amargos. Me recorda algo como "A Dócil" de Dostoyevsky já que tratam dos mesmos temas. É uma das melhores novelas de Tolstoy em compania de O Diabo que narra a história de um homem incapaz de resistir a tentação de trair sua esposa com outra qualquer, novamente, um prato cheio para Freud fazer suas conjecturas toscas sobre homossexualidade e hedonismo. O diabo é escrito em forma de carta e confissão, está cheio de suspense por não sabemos qual fim terá o protagonista, se será pego, se cairá na tentação de trair sua esposa ou mesmo se pretende cometer um crime dado as suas bizarras conjecturas. É em linhas gerais um romance sobre equilíbrio e sobre não se deixar levar pelos prazeres venéreos. O final é um show a parte sendo um mindblowing(explode-cabeças) e deixando um mistério sobre se o homem traiu ou não a esposa.

Os Contos de Tolstoy

Em relação aos seus contos encontro algo débil em relação as suas novelas, suas novelas no geral contavam com algo de interessante pelo menos por parte dos personagens nos dando insights interessantes e reflexivos, em seus contos reinava uma áurea de conto de fadas mau planejado e apressado. É o caso de "O sonho" ou "Meu Sonho" um texto chatíssimo sobre aristocratas conversando sobre uma vida conjugal perfeita e sobre heranças ou mesmo outros como "Do que vive o Homem" um texto que teria potencial para ser algo reflexivo sobre a condição humana da pobreza e sobre como amor pode superar qualquer obstáculo inclusive o obstáculo da fome, todavia a pressa do autor em concluir o trabalho arruinou a atmosfera de magia nos entregando um conto breve sobre um sujeito que se fez anjo para mostrar o melhor de um camponês e sua família humilde. Outros contos chegam a caricato como "Ivan o Imbécil" um dos contos menos entediantes sobre um gigante idiota que recebe o poder de pedir qualquer coisa, é uma fábula intessante e fez me recordar de algumas obras de Walt Disney. Os contos de Tolstoy em relação as suas novelas são totalmente dispares tendo em vista que seus contos focam em um público mais infantil enquanto que suas novelas são direcionadas a adultos e até certo ponto é um aspecto que respeito profundamente em Tolstoy, que é o fato dele ser um dos escritores mais versáteis que já existiu, compondo vários contos e romances que variam sobre os mais variados temas como conflitos, guerras, casamento, religião, filosofia, magia e etc a textos teóricos, sociológicos e eruditos. Poucos escritores conseguiram transitar entre serem cômicos e reflexivos sem que um dos dois elementos pareçam alienígenas entre si. Sem dúvidas um homem excepcional.


De quanta Terra Precisa um Homem?

Mencionei que Tolstoy como contista era algo medíocre? Bom, é um prazer contradizer a mim mesmo com esse breve conto sobre o expansionismo, how much land does man narra a história de um homem que comprou várias terras, que se expandiu ao limite anexando e comprando várias fazendas ao redor do mundo e dedicou sua vida a conquistar e comprar fazendas até o fim de seus dias quando que parafraseando o texto "sua morte chegara e para o homem que sonhou em conquistar toda a terra possível, 7 palmos de terra foram-lhe suficientes para". O conto é uma crítica direta ao expansionismo do império russo que desde SEMPRE existiu, muitos acreditam que o atual conflito entre Ucrânia e Rússia surgira em 2022 ou em 2015, é necessário saber que essa questão é tratada desde muito antes do bolchevismo soviético, desde tempos há uma discussão sobre o tamanho da Rússia para que afinal as autoridades russas desejavam tantas terras sendo que já eram em si o maior império do planeta. A resposta breve e simples pode ser dada pelo expansionismo das potencias de fronteiras terrestres em detrimento das potencias de fronteiras marítimas, o império russo dominou por um bom tempo todo o hemisfério norte da ásia e pouco a pouco perderam esse controle e sequer sobre o brutal regime soviético conseguiram manter esse domínio pelo simples motivo de ser inviável a qualquer país manter tantas regiões sem enfraquecer a economia pelas regiões, províncias ou estados deficitários, é só ver o caso de países como Brasil ou a própria Rússia, é impossível manter o domínio sobre regiões dispares em produção e em cultura sem que haja um sistema de exploração onde os estados que produzem sejam sugados por estados deficitários. Se o governo central opta por não ajudar essas regiões, as mesmas tendem a cair nas mãos de grupos separatistas, como ocorreu na Ucrânia ou mesmo o próprio estado tendo de dar independência aos separatistas por uma questão econômica. Regiões que anteriormente pertenciam ao império russo ou ao império bolchevique foram forçados a se dissociar territorialmente. Afinal o que é a Rússia de hoje se não uma colcha de retalhos sustentada por uma força armada e logística remanecente do regime soviético? Acredito fortemente que se a Rússia fosse apenas Moscou seria uma potência absurda e incauculável.

Pais e Filhos:

Ivan Turgueniev e o Niilismo: com Tolstoy a literatura russa ganhou tons mais realistas, no entanto na Europa pós revolução, ideias novas surgiam e rodavam o imaginário intelectual da época com obras que enalteciam o utopismo, a igualdade como as obras de Russeau que influenciaram grandemente Tolstoy em seu livro Guerra e Paz onde ele elabora melhor a tese de que somos produtos do meio, de que o homem nasce puro, que é possível alcançar o paraíso na Terra onde todos somos iguais, temos também sujeitos mais exóticos que pregavam a anulação das leis morais, que pregavam o absurdo do mundo, suas contradições e injustiças alegando que nada faz sentido, os famosos niilistas. Foi na obra de Ivan Turgueniev que o termo Niilismo se popularizou, onde o protagonista do romance Evgueni Vassílievitch Bazárov alega não acreditar em nada, nem em Deus, nem na filosofia, apenas na ciência e no empirismo, algo bastante similar as ideias kantianas, ignorando o fato de que a própria percepção humana da realidade é limitada. Críticas a parte o personagem de Bazárov em Pais e Filhos representa o surgimento do Niilismo no cenário intelectual russo, que faz parte dessas idéias importadas da Europa já que, antecipando a crítica a Dostoyevsky, os intelectuais russos agiam com um certo servilismo em relação aos europeus, o racionalismo era moda e a "queda" da metafísica antecipada por Kant foi o estopim para outras ideias como o egoísmo racional de Stirner, o evolucionismo de Charles Darwin, o comunismo de Marx e Engels e etc, todas essas teorias romperam com transcende e a espiritualidade, anulando Deus da equação, o resultado disso é o que vemos e vimos no século 21 e 20, guerras, matanças, destruição dos valores, da fé, da religião, deturpação da ética, da natureza, da arte e etc. Mas essa crítica eu deixo para que Dostoyevsky explique.


Primeiro Amor

Turgueniev também escreveu outros livros como Primeiro Amor, um texto algo amador sobre um sujeito que conta sobre... o Seu primeiro amor que é sobre um filho e um pai se apaixonando por uma mesma mulher, mulher essa que é casada.... Freudianos explodindo agora, sim, algo redudante, não é a minha leitura preferida dele e contudo não é uma leitura ruim, para ser sincero fora de Pais e Filhos não encontro muito material para analisar de Turgueniev fora do seu magnum opus Pais e Filhos. First Love é um texto entediante e sinceramente de mau gosto inclusive para um autor de tanto renome como é Turgueniev.

Passando por Turgueniev temos outro Ivan, Ivan Goncharov, esse sim com uma excelente e exemplar novela chamada Oblomov que é nada mais nada menos que a história de um homem extremamente preguiçoso que não consegue levantar da cama... Yeah!! Brincadeiras a parte esse é um dos textos mais interassantes que já li na vida, é como um certo amigo disse "Welcome to the nhk" Russian version, é inclusive melhor que Nhk por ser ainda mais sombrio e de adentrar ainda mais na mente do protagonista até um nível psíquico, é simplesmente genial o trabalho psicológico que Goncharov realizou nessa obra, não só psicológico como crítico de uma forma tão humana que é impossível não sentir empatia pelo protagonista. É uma leitura enriquecedora cheia de reflexões. Tristemente o nosso querido Goncharov só escreveu Oblomov(na verdade ele escreveu outras só que eu não consegui encontrar em lugar nenhum virtualmente).

segue a resenha de Oblomov:

Como é estar morto em vida? Como seria ter a vida de alguém que vive para acordar, comer, dormir e não fazer mais nada, uma vida de sedentarismo e hedonismo que parece infinita, de pronto a sua vida está estagnada, você nem se levanta mais, não toma sol e vive isolado sem viver a vida, não amigo não estou descrevendo os otakus, estou descrevendo a vida de Ilya Ilych Oblómov um nobre senhor que vive na Rússia Czarista do século 18 em uma cidade pacata onde quase nada ocorre. Oblomóv é um alerta e uma crítica amarga e intragável sobre o sedentarismo, o comodismo e as jaulas mentais que nos aprisionam de fazer as coisas normalmente, é uma viagem na mente de um sujeito que perdeu completamente a vontade de viver, um típico comodista, se fosse para usar termos comparativos diria que é como a versão em livro de Welcome to the NHK(sim eu sei que o mangá é inspirado em uma novel, cala-te) ambos casos(Satou/Oblomov) são sobre um sujeito que não consegue sair do quarto, que basicamente não vive, que não é um cretino completo mas alimenta comportamentos perniciosos e que encontraram em outra pessoa um motivo para viver. Todavia eu digo que Oblomov logrou ser ainda mais dark e psicológico que NHK(se é que é possível) e possui implicações sinistras quando começas a pensar.

Oblomov segue uma linha narrativa de descrição sequenciada por diálogos que focam em descrever e desenvolver as características e personalidades dos personagens, dando pouca importância para o cenário ou coisas de fundo como casas e etc. Para Ilya temos a descrição de um gordo sedentário com sérios sinais de depressão e falta de motivação, Ilya é um personagem para lá de complexo porque não só é detalhado seu modo de vida e personalidade também nos é exposto trechos da sua psique com a segunda parte nos dando todo um contexto psicológico do porque Ilya terminou assim, apático e distante. Ilya recebeu desde a infância uma espécie de super proteção da mãe que lhe basicamente o impediu de ter contato com coisas mais agressivas como bullying, somado ao fato de Ilya viver em uma vila onde reina a fartura e a abundância, onde os servos comem 5 vezes por dia e os senhores comem o dobro, vila dos sonhos de qualquer um, de modo que Ilya jamais teve contato com o sofrimento ou decepções, viveu uma vida livre de qualquer preocupação, o que se paras pra pensar foi exatamente essa a razão pela qual Ilya se tornou um hedonista.

Sabemos que o ser humano trabalha, tem dinheiro e busca comida por fatores de subsistência, trabalhamos para ter dinheiro e temos dinheiro para ter comida, temos comida para não passar fome, há um propósito para cada um, todos temos um motivo em especial para levantar todos os dias e não apodrecer numa cama, esse motivo pode partir de diversas situações, agora imagine uma realidade onde não há nada para lutar, onde não há preocupações e tudo se resume a prazer e mais prazer, seria uma maravilha nos primeiros anos mas rapidamente se tornaria algo cinza e sem graça porque perderíamos o propósito de existir já que mesmo os prazeres enjoam rapidamente se não há estímulos ou mesmo um intervalo entre eles. Esse mundo de hedonismo e indolência rapidamente gera um vazio existencial que só pode ser artificialmente suprido por outros prazeres e assim se cria um ciclo onde o individuo se torna totalmente conformado em estar dopado, assim surgem vários casos de depressão e outros transtornos mentais.

No caso de Ilya a sua condição de indolência foi plantada pelos seus pais e alimentada pelo próprio durante a vida, o livro nos indaga vários questionamentos filosóficos e existenciais, principalmente sobre o sentido da vida e a falta de sentido, sobre o quão vivo realmente estamos, que marca e que impressão deixamos nas pessoas, será que realmente estamos vivos ou apenas emulando e deixando as coisas que importam de lado, seja por um desejo egoísta ou por um medo interno que nos impede de viver? São algumas das indagações do livro que te colocam para pensar e pensar sobre nossas atitudes. Durante toda a história Ilya topa com figuras medíocres e irrelevantes que nunca obtiveram sucesso, vivendo vidas medíocres e passivas, gerando em Ilya a impressão de que não vale a pena ter uma vida se é para desperdiça-la em algo assim quando se nem se sabe se o sucesso será alcançado. É exatamente aí que Ilya começa a criar prisões mentais que lhe impedem de tomar uma atitude e agir.

É comum hoje em dia o uso do termo "coping" em alguns forúms e redes sociais, que se refere a um otimismo que segundo os que usam o termo seria um abuso do otimismo, algo como "terei sorte hoje e apostarei na loteria e ganharei""em 72 horas o exército intervirá" é uma espécie de otimismo irreal que serve para aludir pessoas que pensam que o mundo é como nos filmes. Com o tempo o "coping" deixou de ser um termo pejorativo usado para evidenciar uma certa ingenuidade para ser um termo usado por fracassados que tentam de todos os modos criar blindagens mentais para não ter que enfrentar os problemas de frente com a ideia de que tudo dará sequencialmente errado, não importando o que se faça se convertendo em um pessimismo irreal e vitimista onde o indivíduo presume um resultado ruim sem sequer tentar. Menciono isso porque é a chave para entender a psicologia de Ilya, Ilya é um sujeito que se convenceu de que nada que ele faça mudará ou importará de todos os modos e que é melhor viver isolado em um quarto divagando e falando sozinho com servos que o desrespeitam.

A condição de Ilya muda quando conhece Olga, uma mulher jovem e bonita que tomada por uma espécie de pena resolve se aproximar de Ilya, desenvolvendo no processo um relacionamento quase recíproco. Ilya enxerga em Olga um motivo para sair do quarto, um motivo para viver, como se a chama da vida voltasse a brilhar no nosso herói. Nesse aspecto me agrada como o livro não retrata Ilya apenas como um cretino sem nenhuma virtude, o autor nem sataniza nem glorifica a personalidade acomodada do protagonista, sendo o mesmo atencioso, sensível, honesto e justo, a crítica recai muito mais no seu comportamento comodista que qualquer outra falha de caráter. O restante dos personagens estão mais para complementar Ilya e o seu desenvolvimento e anti-desenvolvimento. Sim, Ilya tarda alguns capítulos até sair do quarto e conhecer Olga até finalmente se apaixonar, e a parte da dupla romântica consegue ser realmente interessante e superior ao romance em NHK, mais que nada porque em NHK o romance fecha o arco dos personagens e em Oblomóv é desenvolvido todo um arco onde Ilya se apaixona por Olga, se desilude e volta aos velhos hábitos tendo um final sumamente triste nos dando uma mensagem crua mostrando que certas escolhas são irreversíveis, isso é algo que pouquíssimas séries, animes ou filmes podem oferecer.

Digo que o livro é reflexivo e que o final é triste mas na verdade o tom geral da obra é bastante sutil, possui seus momentos tocantes assim como há vários momentos cômicos mais que nada porque Ilya é um personagem agradável fora dos seus problemas, suas interações com o seu criado, com Olga, com os outros amigos e inimigos, inclusive é um tipo mais identificável que os personagens rudes e sanguinários de Dostoyevsky(eu criticando Dostoyevsky, uau que raro). A obra também nos mostra os entraves de se ter um relacionamento, como não é tudo preto e branco como apontam algumas obras, isso é, preocupação com dinheiro, com sentimentos adversos e etc. Poderíamos dizer que a relação de Ilya com Olga foi para nos dar uma mensagem sobre não depender de outras pessoas para obter a própria felicidade, ao mesmo tempo que podemos dizer que a relação com Olga reviveu a chama da vida em Ilya e sobre o quão importante é ter apoio emocional, creio válido ambas interpretações.

Sobre os defeitos do livro, bom, são poucos e incluem o final, pessoalmente desejaria um final otimista para Ilya, um final onde Ilya se casa com Olga ou que desenvolve algo mais vívido como um hobbie ou outra coisa, porque havia uma dose de virtude e carisma em Ilya, não é como o homem do subsolo. Geralmente não reclamo de finais trágicos mas nesse caso eu internamente desejaria um final otimista. Falando do final, foi claramente um encerramento apressado e com time skips que omitem muitos acontecimentos, todavia de modo algum isso destrói tudo que foi construído.
Em conclusão Oblomóv é mais uma obra prima da literatura russa, uma obra profunda com vários dilemas filosóficos, uma fantástica exploração psicológica sobre temas tão relevantes hoje em dia, porque fora da trama, estamos falando de um livro escrito no século 18 quando sequer existia a ideia de Hikikomoris ou neets. Me agrada a mensagem de escolher viver invés de cair na inércia, que estar respirando não significa necessariamente estar vivo, que o sofrimento faz parte da vida e que devemos sofrer, que a falta de sofrimento por si só cria outros sofrimentos, um livro que facilmente entrará para o meu top livros.

A Lady Macbeth de Mtsensk

Lady Macbeth, detesto tanto a obra original de Shakespeare quanto essa de Nikolai Leskov, bem, exagero, eu só a considero medíocre, ou menos, uma obra que falta algo mais picante digamos assim(não falo de nenhum erotismo) é basicamente uma obra sobre o dilema de denunciar alguém que você ama ou não, sobre o papel da mulher na sociedade europeia. Também é uma história sobre assassinato tal como a obra de Shakespeare.



Dostoyevsky e o realismo: Bem eu creio que é redundante falar a importância de Dostoyevsky na construção desse texto, na verdade todo esse texto foi escrito pensando nessa parte, Dostoyevsky é para a literatura o que Hideaki Anno foi para a indústria de anime, sendo não o primeiro mas um dos expoentes do gênero das novelas psicológicas, recebendo influencias de autores como Honoré Balzac e Alexandre Dumas Dsotoyevsky logrou criar uma gama de histórias filosóficas que entravam no terreno do existencialismo, por muito se considera ele como o pai do existencialismo em vez de Kierkgard. Suas obras se caracterizam pela introspecção e por um certo padrão de personagens que podemos analisar; segue a análise;



Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski, simplesmente Dostoiévski é o romancista mais importante da história da Rússia, estando ao lado de gigantes como Miguel Cevantes ou Shakespeare, com suas obras alcançando um nível de relevância que transcende o próprio período do autor pois como sabem, o que faz um autor ser relevante não o quão popular ele foi em seu tempo mas sim se sua obra permanece precisa em termos históricos e sociológicos. Estamos falando de um escritor psicológico em toda regra, cujo os personagens estão aí para retratar problemas sociais, filosóficos e políticos, ou pelo menos em sua maioria com algumas exceções interessantes que fazem da sua obra algo enriquecedor não apenas em termos literários como também em termos filosóficos, suas histórias estão carregadas de simbolismos sutis que coloca o leitor em um estado de meditação e reflexão sobre as ações e pensamentos dos personagens que ele representa, seus personagens em muitos casos são tão psicológicos que entram no terreno do existencialismo. Seus temas além de dotados de uma variedade de gêneros literários, passando por obras sobre assassinatos até obras sobre revoluções, quase sempre carregados de alguma reflexão que é expressa as vezes direta ou indiretamente pelo próprio autor.


Dostoiévski apesar de ser anti-comunista, também não era 100% pró individualismo, chegando inclusive a criticar ferrenhamente os que se dizem egoístas racionais, que é uma outra vertente filosófica da época, ele acreditava que era essencial o contato humano e que carregamos conosco um grande vazio que apenas pode ser preenchido por Deus e pelos valores cristãos, que estarmos absolutamente sozinhos levaria a coisas como depressão, suicídio, ansiedade e demais problemas que se tornaram uma verdadeira moda no mundo secular. considero sua crítica em relação ao individualismo a mais exata e precisa já que carrega consigo vários questionamentos de caráter existencial, por exemplo, a falta de Deus e do amor ao próximo leva a um estado de amoralidade onde o indivíduo cria para si próprio um sistema moral para não ser consumido pela loucura de achar que não existem valores e logo não existe uma ordem preestabelecida, criando um paralelismo com o Übermensch de Nietzsche, um sujeito que superou o sistema moral vigente. Dostoiévski tem o mérito de ter antecipado aquilo que Nietzsche escreveria tempos depois.

Contudo seria entediante e bastante pretensioso se Dostoiévski escreve tudo isso que eu disse de forma direta em forma de sermão, seriam obras panfletárias carentes de valor artístico, o que como já sabem não é o caso. Os personagens ateus de Dostoiévski são sumamente humanos e possuem toda uma justificativa para pensar do modo que pensam, Raskolnikov por exemplo ou tipos mais exóticos como Fyodor Karamazov e o Homem do Subsolo. Cada um possui uma lógica interna que faz com que pareçam que estão certos, todavia o fim de cada um desses personagens está cheio de amargura, tristeza e miséria, não porque o autor seja um sádico que castiga os personagens dos quais discorda ideologicamente, mas sim através das próprias ações dos personagens, dando ênfase na escolha individual, a forma correta de escrever uma tragédia. Dostoiévski acreditava que nossos pensamentos induzem nossas ações, ser ateu nos induz a acreditar que as coisas não possuem tanto valor, tornando o indivíduo cínico em relação às coisas. Indo além da crítica aos movimentos revolucionários, o russo também criticava por vezes a falsa religiosidade bem com o cinismo e a inércia das classes superiores em sua época.

Fora de sua obra também cabe destaque para sua vida pessoal, sendo ele alguém que sofria de epilepsia e constantes infortúnios como perder a esposa, a filha e o irmão tudo em um período muito próximo, de ter se endividado, de ter sido preso e estando sempre em uma linha tênue entre escrever e sobreviver. Sua história de vida é algo bastante inspiracional e sem sombra de dúvidas foi o melhor romancista que a Rússia já produziu.

Sobre suas obras vale ressaltar que isso aqui será mais um review do que uma análise, porque se eu fosse parar para analisar cada uma das obras dele, esse texto teria mais de 100 mil caracteres. Também vale lembrar que não li tudo dele obviamente, deixo de fora o romance "O Adolescente" e coisas mais autobiográficas como "Memória da casa dos mortos". Sobre o romance O Adolescente, não encontrei em lugar nenhum uma cópia, nem físico nem virtual, de modo que pode tornar o meu review incompleto e que pretendo corrigir assim que encontrar o livro.

GENTE POBRE(1844):

O primeiro romance de Dostoiévski, obra que lhe concedeu de cara já uma certa relevância na época, em especial nos meios revolucionários onde foi bastante elogiado ao retratar os problemas sociais e econômicos que a Rússia sofria na época. O livro conta a história de Makar Alekseyevich Devushkin, ou simplesmente Devushkin para encurtar, e de Varvara Alekseyevna Dobroselova, de novo, apenas Varvara, onde ambos trocam cartas relatando um ao outro o que se passa em suas vidas, ambos estão em uma espécie de namoro ou romance não declarado, são extremamente pobres e lutam diariamente para sobreviver para quem sabe um dia se encontrarem. Sendo Devushkin um homem gentil e bondoso e Varvara humilde e dócil, ao mesmo tempo que são virtuosos, também estão dotados de defeitos que faz com que sejam mais humanos do que apenas um casal comum de alguma história genérica onde o mocinho e a mocinha são puros. Devushkin por exemplo é um tanto alcólatra e comodista, coisa que irrita Varvara que apesar de boa, termina escolhendo ficar com um velho de condição mais elevada, deixando Devushkin em uma pilha de tristeza e depressão.


Esse livro me recordou outros romances de frustrados como "Sofrimentos de Werther" só que elevado a nona potência. Os dois protagonistas são interessantes já que não são nem desprezíveis nem excessivamente bons, é uma boa representação do populacho médio da Rússia no século 19 já que até então não havia esse cuidado de humanizar as classes mais baixas e coisas como generosidade, bondade e amor eram representadas apenas entre as classes superiores. O livro é quase que inteiramente escrito em cartas, uma forma criativa de detalhar o pensamento e as ações dos personagens, sendo esse um romance nada convencional e até pode-se considerar uma desconstrução do gênero(no bom sentido). O maior problema com esse livro é que os dois personagens são constantemente colocados em situações ruins de uma forma que não natural para gerar pena e termina criando um certo melodrama, alguns acontecimentos são um tanto apressados e o autor exagera muito na adjetivação dos termos. Sobre as cartas dos personagens, possuem certo grau psicológico e ao mesmo tempo filosófico com Devushkin explicando suas angústias sobre seu futuro e indagando algumas reflexões bastante pertinentes como a injustiça econômica do mundo, "na vida a gente tem que entender que um nasce pra sofrer enquanto o outro ri".

7/10



O DUPLO(1844):

Seguindo a linha de tragédia psicológica temos O Duplo, um romance estranho e difícil de entender que precede suas grandes obras psicológicas, essa por sua vez conta a história de Yakóv Petróvich Golyadkin, um funcionário público que está enloquecendo devido a uma psicose onde pensa que está sendo substituído por outro Golyadkin. A história começa quando um médico alerta que seu comportamento era perigosamente antissocial e Golyadkin então, tenta socializar mas fracassa pelo seu jeito "peculiar" de agir, uma sucessão de erros termina fazendo com que ele fosse expulso dos lugares em que frequentava, quando ele encontra a si mesmo, Golyadkin Jr que é diferente do Golyadkin normal já que este tem carisma e habilidades sociais que o Golyadkin original não tem, pouco a pouco Golyadkin Jr vai tomando seu lugar e pouco a pouco o Golyadkin normal vai desaparecendo e é ai que ele entra em um surto psicótico onde passa a ver várias réplicas de si mesmo, o livro termina com ele sendo levado a um hospício pelo seu médico.

Bién, Bién, o que dizer desse livro? É difícil entender o que o autor quis passar, existem várias interpretações e uma delas é de que Dostoiévski quis representar a loucura pela loucura, sem grandes pretensões, tal como o "diário de um louco" de Gogol, ainda sim é possível encontrar coisas interessantes nesse livro como o desparecimento da identidade de Golyadkin, como esse está procurando desesperadamente por uma identidade que o torne mais sociável e querido pelas pessoas, coisa que se materializa no personagem de Golyadkin Jr, ele possui tudo que Golyadkin primeiro desejava e ainda sim, ao passo que essa personalidade vai dominando Golyadkin, este cria uma certa repulsa sobre o duplo e termina entrando em colapso mental ao perceber que estava na verdade perdendo sua identidade, poderia ser um criticismo sobre como estamos constantemente desfigurando nossas próprias personalidades pela aceitação social? Não sei e sinceramente tenho medo de pensar nisso.

De modo que O Duplo é uma obra interessante e competente em detalhar a mente de um psicótico, as interações de Golyadkin com as outras pessoas também é interessante, sobre o personagem de Golyadkin, é bem explorado e profundo. O problema principal do livro é que parece não ter propósito, é apenas a abordagem de um louco, não há uma grande mensagem por trás e acredito que Dostoiévski poderia ter explorado mais o passado de Golyadkin e sua fase antes de enlouquecer, no caso do livro ele já nos é apresentado como louco, se fosse ao contrário seria ainda mais impactante e a mensagem que mencionei acima seria ainda mais potente. A ideia de abordar a questão das doenças mentais de uma forma mais psicológica em vez de ser em forma de escárnio também é digno de elogio, por fim considero um bom livro, mas fraco em vários aspectos e por fim;

7/10

A SENHORIA:

Depois que o recluso e estudioso estudioso Vasily Ordynov é obrigado a deixar seu apartamento, ele vagueia sem rumo por São Petersburgo, contemplando seu desespero por uma vida sem amor, sua infância e seu futuro. Por meio dessa distração, ele se encontra dentro de uma igreja, onde nota um velho, Ilia Murin, com sua jovem esposa, Katerina. Seu fascínio pelo casal, principalmente por Katerina, faz com que ele planeje novos encontros, com a intenção de conseguir hospedagem na casa deles. Ele se torna o hóspede da casa deles. O sombrio Murin é considerado um Velho Crente, com poderes de clarividência que perturbaram seus vizinhos e a polícia local, e que parecem controlar sua esposa. Katerina dá a entender que Murin era amante de sua mãe, que ela pode ser filha biológica de Murin e que os dois fugiram juntos depois que ele matou seu pai. Há uma sugestão não resolvida de que Murin causou a morte do noivo de Katerina durante sua fuga.

Para muitos a Senhoria é o percursor de O Grande Inquisidor de Irmãos Karamazov e para outros pode ser interpretado como uma crítica a religião sendo Murin a representação da igreja e etc. A senhoria configura como um desses romances fracos e sem muita coisa pra analisar se não o contexto e as teorias em volta. Não muito além. É também de se ressaltar que Ordynov é o precursor de personagens como "Nietochka" e "Mishkyn".

Nietochka Nezvanona:

Nietochka Nezvanova, Netotka Niezanova, Nietoska Ezvano... como seja, é um trabalho incompleto de ninguém menos que Fyodor Dostoyevsky, um dos seus trabalhos pré prisão siberiana, é um romance que inaugura uma fase mais romântica bastante influenciada por Pushkin e Byron com um tom mais melodramático que tem aqui e ali de crítica social alá Os miseráveis de Victor Hugo, algo não muito alienígena ao autor um livro para lá de dramático inclusive para o próprio Dostoyevsky que conta a história de uma garotinha boa e nobre de coração que vive em um bairro extremamente pobre da Rússia com sua mãe e seu padrasto que é um músico canalha da pior espécie que a engana e mente durante toda sua passagem na obra.
Dostoyevsky escrevera Netochka Nezvanona em uma época de apogeu da literatura russa tendo que disputar terreno com gigantes como Ivan Goncharov(Autor de Oblomov) e Leo Tolstoy(Autor de Guerra e Paz) em um terreno dominado pelos romances sociais influenciado pelo romantismo britânico mesclado com o positivismo francês que veio a dar origem a vários dos maiores clássicos da literatura mundial.

Assim sendo Dostoyevsky só tinha uma missão, fazer um romance dramático com crítica social de fundo, algo que é real até certa parte do livro. Refiro a primeira parte do livro como a melhor coisa do livro já que explora o início desestruturado da protagonista bem como a sua vida frente a pobreza da época. Bien, o início é exemplar e está repleto de cenas comoventes e psicológicas como qualquer livro do Dostoyevsky, nossa empatia pela personagem é totalmente justificada pelo fato de ser uma criança inocente que é constantemente enganada pelo padrasto canalha e tudo termina de forma bem trágica de forma que é impossível não sentir ao menos uma ponta de tristeza pela protagonista. Com um início forte assim eu esperaria algo na qualidade de um "Idiota"(sua obra posterior a sibéria) ou no mínimo "Gente Pobre"(pré-sibéria) mas infelizmente a coisa foi ganhando contornos no mínino dos mínimos estranhos e até grotescos com a protagonista sendo salva por um príncipe de província e recebendo um tratamento a lá branca de neve sendo a filha pobre versus a filha rica.

Nesse ponto do texto onde a protagonista já havia superado a miséria ainda estava com altas expectativas até que o autor foi degradando por completo o estado psicológico da protagonista estabelecendo-a como uma masoquista emocionalmente instável com tendências homo-eróticas.... O que me irrita nessa segunda parte é que toda a caracterização de Nezvanova como uma criança bondosa e inocente é subvertida por uma caracterização sadista onde a protagonista é enganada consecutivamente por todo tipo de gente canalha da forma mais grosseira e estúpida possível. O relacionamento da protagonista com a princesa(sim, em plena Rússia czarista camponesa altamente patriarcal e militarista o sujeito escreveu um romance lésbico) e não há como negar que é um relacionamento porque o mesmo texto diz incessantemente que a protagonista está perdidamente apaixonada pela princesa por literalmente zero motivos, a princesa a trata mau, desmerece pelas suas origens, a engana e incrimina várias vezes e com um passe de mágica a princesa também passa a amar Nezvanova e de repente tudo vira um trisal(como de dá asc...)(aposto que os freudianos gozaram pelos olhos com essas cenas) Nezvanova vira a cadel... criada da princesa junto de seu marido, um tipo para lá de bizarro(a cena de patrick bateman vindo na minha mente) até que Nezvanova decide que não vai mais ser um cão adestrado da princesa do nada e a novela acaba, claro não mencionei o melodrama que é um dos aspectos que mais detesto desse movimento romantista.

É um trabalho que infelizmente(ou felizmente) não foi finalizado porque o autor estava enfrentando processos jurídicos(levando porrada no lombo) rs, assim que é injusto falar com 100% de certeza que essa novela é ruim, teve um começo ameno e foi escalando para algo triste e em seguida algo decadente e por fim algo grotesco.

Basicamente na minha humilde opinião é o pior trabalho de Dostoyevsky.


NOTAS DO SUBSOLO(1864): Uma evolução temática significativa em comparação com suas primeiras novelas, esta por sua vez está rica e bem detalhada nos aspectos psicológicos e filosóficos, sendo uma obra fortíssima que critica os aspectos do individualismo racionalista, uma tendência que surgiu com o apogeu do ateísmo e das ideias liberais. Não é uma história fácil de ler, não que seja grande em tamanho(com pouco mais que 90 páginas) mas pela linguagem que é apresentada em forma de monólogo onde o protagonista escreve as coisas que pensa. Notas do subsolo conta a história de um homem amargurado e isolado da sociedade, que vive da aposentadoria em um subsolo insalubre onde vive sem amigos e isolado completamente do mundo. A primeira parte o homem do subsolo(não possui nome) narra sua trajetória e seus pensamentos de forma desconexa onde exprime toda sua raiva em relação à sociedade, criticando a religião, a ciência e tudo mais, refletindo sobre o despropósito que estava sendo sua vida nos últimos anos.

Dentre os temas mais importantes cabe destacar o niilismo, que é amplamente criticado nessa obra através do personagem do subsolo que, se distanciando do mundo e das pessoas no geral, estaria vivendo a filosofia individualista que era tão pregada na época em que o livro foi escrito. O niilismo levou ao homem do subsolo criar para si, um sistema de valores próprios onde ele não tem que se preocupar com ninguém, aliás, lidar com pessoas para ele é muito trabalhoso, no entanto essa carência de contato humano fez com que o homem do subsolo experimentasse um profundo vazio e carência de afeto. No fundo ele se sente vazio e deprimido, ele também se odeia porque ninguém deseja sua presença, coisa que ao longo da novela é demonstrado que ele mesmo causou esse isolamento. Sua falta de contato com as pessoas o levou a criar tendências egoístas e mesquinhas. Ele é amante do próprio ego ao mesmo tempo que reconhece que é um estúpido, que faz sua mente ferver em um sadismo masoquista.

Resenha:

Memórias do subsolo ou notes from underground, foi um livro escrito pelo romancista russo Fyodor Dostoyevsky e que conta a história de um homem(não possui nome oficial, apenas narrador ou simplesmente homem do subsolo) amargurado e depressivo do qual desperdiçou sua vida preso em um subsolo onde começa a escrever sobre suas misérias em um relato catártico, falar sobre Dostoyevsky é sempre interessante, sua forma de escrever, de criar tramas, de explorar temas pertinentes e transcendentes sendo um grande crítico do niilismo ocidental, seu renome não é atoa e está sempre tentando subverter as fórmulas estabelecidas, em Memórias do subsolo somos postos na visão de um homem amargurado e um niilista em toda a regra, que detesta a ciência, a racionalidade, a religião e as pessoas em si abordando de forma psicológica como surgem pessoas assim, não é algo mágico e fantasioso com um protagonista corajoso e bem intencionado nop, é simplesmente um estudo de personagem onde o narrador descreve como chegou ao subsolo e expõe algumas de suas ideias que soam bem contraditórias mas que não deixa de ser interessante ao abordar temas sobre o avanço tecnológico, essência humana, identidade e sobre como estamos caminhando para um futuro onde gradualmente perderemos nossas identidades e individualidades.

O homem do subsolo também critica bastante o positivismo e sobre como a humanidade está constantemente tentando racionalizar extermínios em prol de ideais de justiça e sobre como cada vez mais a vida carece de valores espirituais e sobre como estamos caindo em uma espiral de relativismo onde o nada pode significar alguma coisa, o que tem um ar irônico e trágico já são esses mesmos pensamentos niilistas e relativistas que tornaram o protagonista o que ele é, analisar psicologicamente o protagonista/narrador é complicado já que é um personagem multifacetado e aqui é onde entra a genialidade de Dostoyevsky ao caracterizar de forma correta o personagem, mostrando-nos várias facetas do mesmo, explorando suas ideias, seu passado, sua personalidade, suas inseguranças e etc, soa bem natural e as situações mundanas no qual se mete são interessantes e dão mensagens potentes, o homem do subsolo é um covarde e um relativista, exagera ao extremo a imagem que os tem dele por pura paranoia e falta de contato humano já que se estabeleceu que sempre foi solitário e introvertido, aqui é uma crítica bem dura ao estilo de vida individualista que é tão popular e romantizado nos dias de hoje.

O protagonista é a síntese do termo "overthinking" que é pensar demais e ver coisas onde não existem, está sempre conjecturando sobre oque estão pensando sobre ele colocando-o como uma espécie de centro sendo que ninguém se importa realmente com ele e sendo que ele mesmo sabe que no fundo ninguém se importa com ele e aí vejo certeira a crítica ao estilo de vida individualista, se você não se importa com ninguém então ninguém se importará com você ressaltando a importância de criar vínculos humanos "ter alguém para chorar à minha morte, nem isso tenho" percebendo em um momento de catarse emocional o protagonista por fim se dá conta de todos erros que cometeu com a sua vida até hoje e qual a resolução? simplesmente não há, seria espetacular uma saga onde o protagonista superasse sua covardia e inseguranças mas nop, o livro termina com uma nota amarga e crua onde o protagonista aparenta arrependimento de tudo que passou. Outro ponto pertinente que o livro aborda é a respeito da perda de identidade, pelo fato do protagonista está a tanto tempo sem o mínimo contato, sem ter logrado nada além de ter ficado por décadas preso em um subsolo sujo e fedendo a mofo, isso faz com que a maioria de suas características tenham desaparecidas devido a carência de experiências por uma espécie de covardia moral, ao final do dia sua identidade já havia se perdido, tanto é que não possui nome na obra.

concluindo a resenha diria que esse livro é não só essencial como um dos mais relevantes da literatura mundial, é quase uma carta de advertência à uma tendência que se tornaria popular no mundo, fora disso o protagonista é espetacular a nível de complexidade e a trama é bastante inovadora para a época, me lembra coisas como taxi driver ou evangelion, ao mesmo tempo posso me queixar de que nenhum personagem está aí para se contrapor ao homem do subsolo e que o livro apenas se concentra nele e dando pouca ou nula expressão para outros personagens e posso t
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Added by Magnifik
1 year ago on 15 January 2023 23:05

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kathy