Explore
 Lists  Reviews  Images  Update feed
Categories
MoviesTV ShowsMusicBooksGamesDVDs/Blu-RayPeopleArt & DesignPlacesWeb TV & PodcastsToys & CollectiblesComic Book SeriesBeautyAnimals   View more categories »
Listal logo
Russia review
75 Views
0
vote

Review of Russia

Falar sobre a Rússia é sempre interessante não só pela história rica e conturbada dela como também é pela ampla gama de artistas e escritores desse povo, sendo Moscou considerada a capital da literatura, o que pode gerar controvérsias entre aqueles que não apreciam tanto o amplo arsenal artístico desse país. Pessoalmente acho a Rússia o país mais fascinante em termos tanto artísticos como histórico já que é um país que passou por inúmeras tragédias e fatos sombrios como as revoluções comunistas do século 20. Contudo nessa análise tentarei me deter em comentar mais o aspecto artístico-literário e algumas explanações a respeito do cenário cultural e intelectual da Rússia nos séculos 19 e início do século 20, gerando uma espécie de revisão, bem como apontamentos sobre o panorama geral dos escritores e artistas russos. Falar de literatura russa é sempre fascinante, eles produziram vários dos melhores escritores que já existiram como Dostoyevsky ou Tolstoy, sempre explorando um lado mais psicológico e mais humano abordando temas realmente relevantes como o niilismo, determinismo, socialismo, teologia e etc. Parte desse brilhantismo descende da Europa de escritores como Lorde Byron ou Goethe que influenciaram grandemente o primeiro nome dessa lista;

Aleksander Pushkin: considerado pai da literatura russa, descendente de escravos africanos Pushkin cresceu sob forte influência do romantismo britânico onde veio a escrever algumas obras que foram essenciais para fundamentar as bases do que viria a ser a literatura russa como Eugene Onegin e a Dama de espadas, que dando spoilers, viria a inspirar obras de peso como Crime e Castigo de Dostoyevsky. Sua escrita como já referi, tem raízes no romantismo britânico semelhante a coisas como Shakespeare ou o Byron sendo em termos mais simples muito mais um poeta que um romancista, de caráter mais liberal tendo inclusive participado de movimentos anti-czar como o movimento dos "dezembristas".

Sobre as suas obras, temos Eugene Onegin que conta a história de um dandi (cavalheiro nobre) que sofre com alguns problemas existenciais como o tédio e a falta de prazer nas coisas, Onegin pode ser descrito como um leve retrato da aristocracia russa, onde nos coloca na pele de um sujeito egoísta, cínico e vaidoso, indiferente as pessoas, seu final é trágico e cabe uma certa análise; a morte de Lensky pode representar a morte da sinceridade em Onegin. É inclusive por essa acidez em relação a nobreza que fez Pushkin ser usado pelos bolcheviques como propaganda contra a elite. Seus outros trabalhos apesar de não serem tão complexos são dignos de menção, obras como "O Tiro" que narra alguns temas como o orgulho ou a humilhação que seria ampliada em obras mais robustas como "O Idiota". Também temos obras como a "A dama de espadas" que narra a história de um alemão que fica encantado com algumas capirotagens de uma condessa e planeja descobrir esses segredos no entanto as coisas terminam mal. A dama de espadas é mais um experimento que serviria de inspiração para obras mais complexas com Crime e Castigo. Apesar de não ser o autor mais transcendental Pushkin foi quem logrou sedimentar um espaço para a Rússia no cenário literário europeu, seu fim, apesar de irônico carrega consigo um grande legado(a saber ele morreu em um duelo, tema recorrente em sua obra) tal como Shakespeare, Camões ou Homero. Ele também solidificou um formato de história que influenciou o próximo sujeito da lista;

Nikolai Gógol e o humor trágico: seguindo a linha temos Gógol que é sucessor de Pushkin em termos de escrita, ele aprofundou aquilo que Pushkin vinha desenvolvendo em sua obra, com tons mais críticos em relação a classe mais baixa denunciando a mediocridade, falta de empatia e cinismo, o que não quer dizer que ele era algum tipo de classista ou algo do tipo, ele em verdade estava criticando esse estilo de vida medíocre que os russos levavam, um exemplo disso é "o capote" sua obra mais famosa que retrata a vida medíocre de um conselheiro titular copista chamado Akaki Akakievitch(nome ruim) um homem medíocre e sem graça, foi funcionário público durante toda a vida até que decide comprar um capote caro juntando vários anos de dinheiro. Esse romance é mais uma denuncia sobre as péssimas condições que viviam e a mediocridade do pensamento médio, Akaki morre terrivelmente e volta para se vingar como fantasma, sendo essa a parte cômica dessa história, um humor sadista e que sinceramente me agradou bastante pelo grotesco e irônico que é, assim é muita de suas obras como o "diário de um homem louco" onde é abordado a questão das doenças mentais de um esquizofrênico que crer ser o rei da Espanha, sua mistura entre os tons de humor e tragédia são bem construídos apesar de que em geral sua obra carece de um maior aprofundamento filosófico e psicológico, contudo foi graças a sua obra que outros autores conseguiram tirar a base para coisas mais complexas como "A Morte de Ivan Illytch" de Tolstoy. Como diria Dostoyevsky "todos viemos de O Capote" referindo-se a literatura russa já que sua obra influenciou vários outros como Ivan Turgueniev, Maiakóvski, Tolstoy,Tchekhov, Gorki e etc.

Tolstoy e a paz na guerra: com Gógol e seu celebre romance "Almas Mortas" é inaugurado uma nova era no cenário literário russo, a Golden Age da literatura iniciou com Gógol e seguiu até Tolstoy em seu célebre livro "Guerra e Paz" que narra as batalhas napoleônicas na Rússia, o romance gira em torno de Pierre Bezukhov que após receber uma fortuna de herança é obrigado a lidar com as responsabilidades desse status social, passando por dilemas filosóficos e espirituais se aliando até a franco-maçonaria, Pierre, se depara então com o fantasma da guerra, seu amigo Andrei Bolkonsky(importante personagem) se decepciona com o mundo após se ferir gravemente, caindo em uma espiral de niilismo. Enquanto isso a batalha entre as tropas de Moscou e as tropas de Napoleão, liderados por Mikhail Tukuzov(general da vida real) os russos conseguem vencer os invencíveis franceses. Para contextualizar melhor, esse romance é um livro histórico sobre as guerras napoleônicas com foco na invasão à Rússia durante o reinado de Alexandre primeiro da família dos Romanov. Nesse período conturbado, a frança vinha através de Napoleão Bonaparte, derrubando monarquias com intenções de estabelecer um governo mundial sobre os ideais revolucionários de liberdade, igualdade e fraternidade, ideais que colocaram abaixo a monarquia de Luís xvi e que estabeleceram uma nova era na humanidade que seguiria pelo caminho do racionalismo, antropocentrismo e "igualdade social" os lemas da nova ordem mundial. Como boa parte da Europa havia sido anexada pelos franceses, restava o inimigo mais forte, os ingleses que são geograficamente separados da Europa, em retaliação aos embargos econômicos e bélicos dos ingleses à França, Napoleão ordenou a todos os países um bloqueio de exportações para a Inglaterra, que ficou conhecido como o bloqueio continental, vendo que seria seriamente prejudicada a Rússia decidiu não aderir ao bloqueio o que serviu de motivo para que Napoleão e suas tropas invadissem a Rússia. Outros países como Portugal também decidiram negar o bloqueio econômico imposto pela França, o que ocasionou o envio de tropas para Lisboa obrigando o rei Dom João Sexto a evacuar estrategicamente para o Brasil, sua colônia na época, para evitar ser deposto, o que poderia invalidar o reinado sobre a colônia brasileira, fortalecendo suas tropas. Enquanto as tropas de Napoleão avançam até Moscou sem muita resistência, os campos e colheitas eram devastados pelos próprios russos, a famosa tática da terra arrasada, uma estratégia criada pelos citas contra o rei Dario e que foi aplicada por Tukuzov e com a ajuda do inverno, as tropas napoleônicas foram reduzindo-se até a batalha de Borodino onde as tropas de Tukuzov enfrentaram os franceses e empataram provocando inúmeras mortes, apesar do empate, os russos saíram moralmente vitoriosos já que acreditava-se impossível vencer o exército francês. O romance de Tolstoy logra retratar historicamente várias batalhas desse período, narrando o cotidiano dos soldados com uma certa exploração psicológica sendo o maior épico dos tempos modernos. É um dos livros mais importantes da história e ainda sim não considero tão grandioso pois possui um certo melodrama em alguns momentos e conta com tantos personagens que é difícil se apegar.

A morte de Ivan Illytch foi outro grande trabalho de Tolstoy e um dos mais obscuros, que narra a história do juiz Ivan Illytch que após se ferir gravemente acaba ficando acamado passando seus últimos dias em uma espécie de transe refletindo sobre toda a sua vida, tocando temas como a responsabilidade pessoal, sentido da vida, falta de amor e futilidade com Ivan Illytch chegando a conclusão final de que viveu sua vida erroneamente, sendo um homem frio em um emprego que ele odeia, com uma esposa que não o ama sem ter aproveitado nada da vida, é um relato angustiante e uma crítica ao funcionalismo público altamente influenciado pelo "Capote" de Gógol, na verdade poderia considera-lo a versão definitiva de "O Capote". Considero essa sua melhor obra.

Ivan Turgueniev e o Niilismo: com Tolstoy a literatura russa ganhou tons mais realistas, no entanto na Europa pós revolução, ideias novas surgiam e rodavam o imaginário intelectual da época com obras que enalteciam o utopismo, a igualdade como as obras de Russeau que influenciaram grandemente Tolstoy em seu livro Guerra e Paz onde ele elabora melhor a tese de Russeau, de que somos produtos do meio, de que o homem nasce puro, que é possível alcançar o paraíso na Terra onde todos somos iguais, temos também sujeitos mais exóticos que pregavam a anulação das leis morais, que pregavam o absurdo do mundo, suas contradições e injustiças alegando que nada faz sentido, os famosos niilistas. Foi na obra de Ivan Turgueniev que o termo Niilismo se popularizou, onde o protagonista do romance Evgueni Vassílievitch Bazárov alega não acreditar em nada, nem em Deus, nem na filosofia, apenas na ciência e no empirismo, algo bastante similar as ideias kantianas, ignorando o fato de que a própria percepção humana da realidade é limitada. Críticas a parte o personagem de Bazárov em Pais e Filhos representa o surgimento do Niilismo no cenário intelectual russo, que faz parte dessas idéias importadas da Europa já que, antecipando a crítica a Dostoyevsky, os intelectuais russos agiam com um certo servilismo em relação aos europeus, o racionalismo era moda e a "queda" da metafísica antecipada por Kant foi o estopim para outras ideias como o egoísmo racional de Stirner, o evolucionismo de Charles Darwin, o comunismo de Marx e Engels e etc, todas essas teorias romperam com transcende e a espiritualidade, anulando Deus da equação, o resultado disso é o que vemos e vimos no século 21 e 20, guerras, matanças, destruição dos valores, da fé, da religião, deturpação da ética, da natureza, da arte e etc. Mas essa crítica eu deixo para que Dostoyevsky explique.

Dostoyevsky e o realismo: é impossível falar de literatura sem mencionar Dostoyevsky, o russo além de possuir uma obra vasta e longa tem o mérito de ter sido lido mundialmente, suas histórias alcançaram boa parte da Europa e moldou a literatura positivamente. Dostoyevsky é meu escritor favorito de todos e creio que valha a pena explicar um pouco de sua história. Dostoyevsky desde cedo bandonou a carreira militar delegada por seus pais e decidiu virar escritor se aliando a um grupo anti-czarista chamado "círculo de Petrashevsky" um grupo de intelectuais socialistas da época, como podem imaginar, devido a dura perseguição do regime czarista, muitos foram presos ou simplesmente fuzilados, nesse tempo dostoyevsky publicou seu primeiro livro "gente pobre" que é um retrato da pobreza que assolava a Rússia, dando especial atenção a situação dos mujiques(camponeses russos). É impossível analisar gente pobre sem entender o contexto tanto do escritor como da própria Rússia, vivendo nas reformas liberais promovidas pelo regime do czar, nesse período a Rússia estava sendo tomada intelectualmente pelos socialistas e niilistas importando ideias da Europa. Após ser preso e quase ser condenado a morte, Dostoyevsky muda radicalmente de ideia e deixa de simpatizar com o socialismo e passa a criticar duramente as ideias seculares se voltando ao cristianismo e a ortodoxia. Apesar de que não menosprezo sua fase socialista, já que as suas obras desse período são realmente boas, no entanto é em sua fase pós exílio que ele se solidifica como o maior escritor da Rússia produzindo suas principais obras: Memórias do Subsolo(1864), Crime e Castigo(1866), Os Demônios(1872), O Idiota(1867) e Irmãos Karamazov (1879)

Começando por memórias do subsolo que narra a história de um homem sem nome que viveu sua vida inteira em um subsolo longe da sociedade, o romance do subsolo é uma crítica feroz aos autores niilistas já que Dostoyevsky nesse período expressava características bastante reacionárias, parte dessa crítica é dirigida a Chernichevski e sua obra "o que fazer" uma obra cheia de feminismos e poligamia que não darei valor pois considero lixo revolucionário "qualquer pessoa consideraria a leitura desse livro tão saboroso quanto comer areia ou serragem" me intriga que esse sujeito fez inclusive Marx aprender russo apenas para lê-lo. Entre miúdos Subsolo também é uma crítica ao individualismo denunciando questões como o abandono, a responsabilidade pessoal, a falta de amor ao próximo, questões que seriam cruciais para as suas próximas obras como Crime e Castigo. Crime e Castigo narra a história do estudante de direito Rodion Romanovich Raskolnikov(me encanta falar esse nome) que decide matar uma velha usurária para pagar sua faculdade, é mais um retrato do abandono, da pobreza e da miséria que estava afundada a Rússia, mostrando o lado mais humano e realista abordando temas como a culpa, consciência, perdão e etc.

O Idiota e o drama de ser bom: já fiz uma resenha/análise desse, cabe ressaltar que essa obra tem um teor mais religioso e trata de temas como a dificuldade de ser cristão, sobre o materialismo e várias outras questões expandidas de forma que é possível se identificar com os protagonistas, meu problema maior com a obra de Turgueniev é que seus personagens são mais lembrados pelas suas ideias do que pela personalidade ou por algum desenvolvimento, Dostoyevsky também cometeu esse erro em algumas ocasiões mas em geral sua obra conta com personagens bem desenvolvidos em relação a suas ideias e psicologia. Aliás esse livro também explana bastante sobre o cenário social da Rússia onde o ateísmo se converteu em uma moda entre os jovens, muitos influenciados pelas ideias revolucionárias.

Os irmãos Karamazov é o evangelion da literatura?: Sua obra final, considerada por Freud e Nietzsche como o melhor romance já escrito, Os irmãos Karamazov narra a história da conturbada família Karamazov onde o patriarca Fyodor, um bêbado boêmio que conseguiu dinheiro a partir da herança de suas falecidas esposas, onde passa o dia em orgias na total falta de valores ensinando a seus filhos o ateísmo, o hedonismo, promiscuidade e tudo que a sociedade moderna ensina aos jovens atuais, Os irmãos Karamazov é o retrato da carência total dos valores cristãos e a consequência primária do Niilismo existencial. Os irmãos Karamazov é a crítica mais dura e consistente a essa visão de mundo que anula Deus e um dos maiores retratos psicológicos que já escritos, sua mistura de temas religiosos com temas políticos e existenciais que de uma certa forma antecipa algumas coisas históricas da própria Rússia como o distanciamento da religião em busca do éden na Terra que como já sabem, provocou todo o caos e destruição do século 20, em termos artísticos esse livro é quase perfeito, digo quase pois o final não é de meu agrado e desejaria um final melhor para Alyosha, infelizmente o autor morreu antes de concluir a segunda parte.

Os demônios e a revolução: deixo os demônios por último pois se trata do texto mais relevante historicamente falando já que antecipou de forma escatológica o assunto do qual irei discorrer, a Rússia passava por momentos de transição onde as ideias liberais passavam, devido a queda da monarquia francesa e a ascensão dos jacobinos bem como o império de Napoleão, fez como que os intelectuais de esquerda se maravilhassem com a possibilidade de romper com as antigas tradições, somado a isso temos a ascensão das ideias marxistas que penetraram na Rússia, passando desapercebida em obras como as de Chernichevski, sendo também retratado o niilismo como apresentado na obra de Turgueniev ou mesmo que alguns círculos intelectuais cultuavam a obra de Russeau como o próprio Tolstoy em sua fase final, isso desencadeou o surgimento de grupos mais violentos como os bolcheviques e mencheviques que durante o período final da primeira guerra mundial tomaram o poder e tudo terminou em uma guerra civil onde os Bolcheviques liderados por Trotsky saíram vitoriosos sobre os mencheviques (liberais) liderados por Aleksander Kerensky, estabelecendo assim o que todos conhecemos como a temível União Soviética. Toda essa questão da revolução e das táticas usadas pelos revolucionários é amplamente discutida e desenvolvida no romance de Dostoyevsky, os demônios é uma sátira/tragédia que narra a vida de um intelectual liberal chamado Stepan Trofimovich Verkovensky que vive sobre os mimos de uma viúva e generala Chamada Várvara Stravoguina, ela o mima em uma espécie de relacionamento moderno, ela também concede a ele a educação de seu filho Nikolai Vselodovich Stravoguin, fora seu filho Piotr Stepanovich Verkovensky, filho de Stepan, para não confundi-los com esses nomes complicados chamaremos Stepan de Verkovensky Pai e Piotr de Verkovensky filho, o Verkovensky pai é um liberal e o Verkovensky filho é um revolucionário radical que sonha em destruir o império czarista. Já Stravoguin é mais um promíscuo hedonista fruto da educação intelectual que recebera de Verkovensky pai. Verkovensky filho em revolta contra a sociedade e tomado pelo Niilismo tenta armar uma revolução na Rússia incendiando uma favela e matando algumas figuras para gerar o caos atuando como um verdadeiro coringa só que com ideias fixas em vez de ser apenas caos pelo caos. Verkovensky filho sonha com uma sociedade igual onde a moral seja anulada e a beleza seja extinta, ele é a representação pura da falta de Deus sendo um ser altamente perigoso e violento, parte do que ele diz sobre a revolução pode elucidar muitas coisas sobre o atual cenário que vemos no Brasil "o juiz que absolve o bandido é dos nossos, o professor que ensina os alunos a anarquia é dos nossos, o intelectual que distorce a história é nosso amigo, o advogado que advoga pelo assassino é dos nossos, as igrejas estão vazias e os bares lotados, esse é o nosso objetivo, destruir a ordem" qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência. Já Stravoguin é apenas um promíscuo e seu personagem é o mais complexo da obra com ele protagonizando o capítulo mais macabro da obra(no spoilers). Quanto ao Verkovensky pai, é apenas um tolo liberal que acredita que estamos caminhando para o progresso, ele não é objetivamente mal, é até gentil, porém suas ideias levaram a criação de Stravoguin e Piotr. Uma das razões pelas quais considero Os Demônios superior a País e filhos é que sua crítica e análise do tema é mais profunda dando entraves mais psicológicos aos personagens e expandido o leque de temas envolvendo revoluções, crimes, sátiras e um genuíno desenvolvimento psicológico entre os personagens.

Tchekhov e o fim da Golden Age: não há dúvidas que os 50 a 70 do século 19 foram o auge da literatura russa, produzindo várias das peças mais profundas já escritas, é como a dark sci-fi age dos animes ou os anos 80 de Hollywood, simples o melhor estava lá e com o fim dela, marca-se o início da era de prata com o maior representante do período sendo Anton Tchekhov, um químico e escritor nas horas vagas, como ele mesmo dizia "a ciência é a minha esposa e a literatura é a minha amante" Tchekhov em geral produzia obras curtas, contos para se ler em mais ou menos uma hora ou não mais que isso. Não é um escritor complexo como Tolstoy ou Dostoyevsky e suas obras em geral são simples e carregam um certo engenho que podem prender leitores iniciantes. Suas histórias também possuem um lado bastante feminista que me desagrada Pero se é para desligar o cérebro eu recomendo, suas principais obras são: a dama do cachorrinho, o bilhete, a aposta e o vingador.

Gorki e Maiakóvski, os poetas da Revolução: com o fim da era de prata, a literatura russa teve um período de decadência devido as guerras e a revolução que toliu os direitos artísticos forçando muitos escritores e pensadores ao exílio ou mesmo a prisão nos tenebrosos gulags, como foi o caso de Soljenitsyne, que viera a escrever seu célebre livro "o arquipélago gulag". Contudo a arte conseguiu subsistir através da propaganda pró soviética (a única tolerada) e dentre esses escritores existiram Maiakóvski e Gorki. Maiakóvski era um revolucionário que participou da revolução bolchevique sendo um dos principais expoentes da era soviética, contudo seu valor como artista não é lá muito grande já que suas obras são em geral peças da propaganda comunista com toques poéticos a lá Pushkin sem muito o que comentar, Maiakóvski também sofreu uma certa perseguição pelos próprios membros do regime e seus últimos contos relatavam uma certa desesperança e fatalismo prevendo que a Rússia cairia nas mãos de autocratas megalomaníacos, pouco tempo após sua morte Stalin assume o controle da união soviética, ele morreu em 1930 por suicídio, existem fortes evidências de que o suicídio foi encomendado por membros do regime que estavam realizando uma limpeza entre os antigos membros. É um caso parecido com Gorki que fundou o "Realismo socialista" que é apenas um nome bonito para propaganda leninista, Gorki diferente de Maiakóvski, viu de perto os horrores do comunismo, em sua visita aos campos de concentração na ilha de Solovetski, porém nunca renegou as ideias. ambos autores expressam em suas obras um certo feminismo e apego às ideias marxistas, é por essa razão que são chamados "os poetas da revolução".

Este é o panorama breve da literatura, é óbvio que não há todos os autores ou todos os livros, deixei de fora alguns livros como Ana Kariênina Arquipélago gulag e Oblomov, porque farei uma análise separada desses livros, de modo que o quão bom é a literatura russa? É obrigatório eu diria para qualquer estudioso de literatura e considero sumamente importante ter pelo menos um breve contato com a obra de Dostoyevsky, também é inevitável para quem estuda história seriamente não esbarrar em títulos como guerra e paz ou Arquipélago gulag, concluo que foi uma experiência reveladora.

Ranking:
1-Dostoyevsky 9/10
2-Tolstoy 6/10
3-Gógol 6/10
4-Pushkin 6/10
5-Ivan Turgueniev 5/10
Avatar
Added by Magnifik
1 year ago on 30 June 2022 00:45