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Review of The Brothers Karamazov

Irmãos Karamazov, um dos mais importantes livros da literatura mundial e um dos mais complexos de Dostoyevsky, sendo literalmente seu último trabalho antes de morrer, abordando temas variados como a moralidade, existência de Deus, hereditariedade, livre arbítrio e temas realmente controversos, tais como determinismo social e psicológico. O livro é gigantesco e dividido em várias partes, tendo quase 800 páginas, não é um livro fácil de ler pelo tamanho e conteúdo, não que seja lírico e cheio de simbolismos mas sim por ser autenticamente um livro denso de conteúdo filosófico e político. Dostoyevsky é bastante conhecido por suas obras psicológicas e políticas que estão constantemente desafiando o status quo e as ideias conformistas e fantasiosas que hoje se tornaram comuns, ideias como igualitarismo, niilismo, ateísmo e socialismo que seriam decisivos para a Rússia no seguinte século após a morte de Dostoyevsky. Está claro que Dostoyevsky não gosta de ideias escapistas e possui uma filosofia de que o mundo, apesar de suas incoerências e contradições, deve ser vivido e que se deve haver uma ordem moral para que a sociedade não se degenere e seja consumida por abominações. Tristemente tudo que Dostoyevsky alertava em seus livros veio a torna-se realidade, a depressão se tornou uma moda, o suicídio é quase que glorificado e ideias de igualdade se transformaram em uma verdadeira religião moderna, tudo o que o russo temia virou realidade não apenas para a Rússia mas para todo o mundo.

Parando de rodeios, de que diabos se trata Irmãos Karamazov? Trata-se de uma novela sobre uma família totalmente desajustada e problemática, com o patriarca Fyodor Karamazov, sendo um promíscuo degenerado, ateu e devasso, que possui 4 filhos oriundos de casamentos diferentes, com Dimitri Karamazov sendo o mais colérico, ciumento e igualmente promíscuo e devasso tal como seu pai, sendo este seu maior inimigo como veremos, temos também Ivan Karamazov, que diferente de Dimitri, é mais calmo, coerente e eloquente, sendo o gênio e a mente por trás de grande parte dos eventos do livro, sendo ateu e professando a ideia de que se "não há Deus, logo tudo é permitido", temos também Alyosha, ou Alexiei, um rapaz bondoso, gentil e o único filho cristão de Fyodor, Alyosha é a mente conciliadora da família, por fim, temos também Smerdyakov Pavel, um epiléptico ranzinza e amargurado que carrega boa parte da genética ruim de Fyodor, sendo Smerdyakov oriundo de um estupro, quando Fyodor abusou de uma mendiga deficiente e surgiu ele. Fora os Karamazov há os personagens secundários que possuem papel importante na história, sendo os mais destacáveis; Starietz Zósima, um padre e mentor de Alyosha, o qual serve mais para reiterar a filosofia cristã de Dostoyevsky, passando uma visão do cristianismo que realmente não deves ignorar, temos Grushenka e Katya, duas figuras que estão ai para irritar, sendo Grushenka uma promíscua e degenerada, algo repetitivo de dizer.

Todos os personagens são explorados de forma direta ou indireta pelo autor, com alguns contando com diálogos, monólogos e notas extensas explicando e detalhando o pensamento e a psicologia de cada um, alguns obviamente são mais bem aproveitados e explorados que outros, mas diria que todos os personagens possuem transfundos interessantes, sendo todos bem redondos no quesito de exploração temática. Vejamos pois, os principais(Fyodor, Alyosha, Ivan, Dimitri) são explorados não apenas psicologicamente, como ideologicamente, o autor vai fundo na mente de cada personagem de forma que sintas empatia mesmo pelos piores personagens possíveis. Começando por Fyodor, um velho devasso e promíscuo que ficou financeiramente estável após vários casamentos que terminaram em mortes prematuras de cada uma de suas esposas, seu personagem é vil e desprezível, o ponto de sua caracterização é mostrar os efeitos gerados de uma mentalidade conformista, hedonista e voltada para os prazeres, ai está o ponto chave dessa obra, demonstrar o quão mau está essa mentalidade de "Deus não existe então regras não fazem sentido" que está ok beber, bater nos filhos e ser uma pessoa de merda apenas porque "muh, não existe moral e disciplina é fascismo" esse tipo de mentalidade, que antes era condenado na literatura é hoje promovido com algo bom pelos meios globo homo(leia minha resenha de Turning red).

Irmãos Karamazov não é uma obra escapista que passa a mão na cabeça para as cagadas que fazemos, pelo contrário, nos mostra as consequências reais disso, quantas pessoas por ai não sofrem por causa de pais alcóolatras e devassos, mostrando como isso afeta não só o indivíduo como todos ao seu redor, com a displicência de Fyodor refletindo diretamente em Dimitri, Ivan e Smerdyakov. Ivan é um caso parecido, diferente dos outros filhos ele é inteligente e eloquente, sendo alguém ressentido o qual foi cultivado pelo pai algumas ideias ateias, sendo fortemente influenciado por esse pensamento, o que leva a influenciar Smerdyakov ocasionando toda o problema da segunda parte do livro, basicamente Ivan acaba refletindo em Smerdyakov suas ideias niilistas e destrutivas, refutando essa tese de que a moral é algo subjetivo e que não possui consequências, é justamente pelas ideias deturpadas de Ivan que toda a desgraça é desencadeada. Ao final do livro Ivan compreende e é tomado por um senso de moral, contradizendo suas ideias sobre a moralidade e a religião e POR DIOS o livro deixa claro que não devemos pensar como Ivan, nos mostra as consequências e ainda sim há retardados que romantizam essa visão espúria de amoralidade intencional! Tanto que ao final Ivan percebe que não acredita no que diz e assume ser um ser moral, rejeitando suas ideias antigas. O livro em diversas partes critica a igreja católica e o liberalismo, dizendo que ambos são frutos do iluminismo, algo historicamente incorreto já que o catolicismo precede o iluminismo, algo que não considero um erro já que essa visão é passada através de Ivan, não creio expressamente que Dostoyevksy acreditasse de fato nisso.

Temos por fim Alyosha, um jovem simples e humilde, manso e gentil que serve de figura conciliadora de sua família, sendo igualmente um personagem complexo e de certa forma trágico já que tem que lidar com os cretinos dos seus irmãos ao mesmo tempo que sofre pelos erros dos seus parentes, sendo na maior parte das vezes o mediador dos problemas externos de sua família, um genuíno mártir, já que é necessário uma paciência de Jó para aguentar os cretinos que o cercam. O ponto do personagem de Alyosha é ressaltar a visão cristã de Dostoyevsky mostrando que devemos seguir uma linha de disciplina e amor ao próximo, passando uma visão altruísta e estoica que é ressaltada ainda melhor na figura de Starietz Zósima que ensina várias lições sobre o cristianismo que devem ser meditadas e refletidas por todos "não há pecado que seja maior que o amor de Deus pela humanidade". Referindo-se aos materialistas "os bens materiais aumentaram junto da solidão e da depressão, entre os pobres aumenta a violência e a barbárie". O padre Zósima possui uma filosofia poderosa que diz que "o jejum, a oração e a devoção são os únicos caminhos para a verdadeira liberdade, o domo e o flagelo da vontade egoísta é o que transforma o ser humano em um ser dotado de amor e compaixão" em poucas palavras, viver dos prazeres não é ser livre, mas apenas ser escravo dos desejos efêmeros, nada mais é que puro egoísmo, dando uma mensagem sobre a importância e valor da disciplina, e o amor a Deus. Dostoyevsky passa em sua obra que Deus ao dar o livre arbítrio à humanidade, na realidade estava consagrando um verdadeiro fardo ao homem. Todos somos livres para acreditar ou não em Deus, fazer o bem ou não. Deus deu aos seres humanos a possibilidade de escolher o mal, também nos diz que não faz parte dos planos de Deus realizar milagres e conceder desejos apenas porque alguém assim deseja.

Também é bastante enfatizado a ideia de que "mesmo que sejamos os únicos a crer, devemos continuar a crer" mensagem importante para os tempos modernos. Por fim temos Dimitri Karamazov que em poucas palavras é um bipolar violento, tal como seu pai possui o mesmo vício de ser devasso, gastando dinheiro com coisas inúteis sofrendo por romances quebrados, sendo meio bipolar, variando entre ser muito agressivo e ser muito compassivo, um personagem genuinamente trágico, mostrando que foi fortemente afetado pelo pai, sendo alguém emocionalmente quebrado. Smerdyakov por outro lado é a cópia de seu pai, ranzinza, mesquinho, feio e miserável de espírito, fruto de um estupro de Fyodor a uma mendiga esquizofrênica... Sim... É descrito em parte como um ser desprezível, tendo vários ressentimentos em relação a seu pai, que é somada a sua influência pelas ideias de Ivan que terminam por leva-lo a cometer o ato principal do livro. Smerdyakov é um personagem trágico e triste pela própria natureza de seu personagem, sendo o fruto direto da perversão e mau-caratismo de Fyodor, acaba por herdar os defeitos do pai que tanto odeia, é mau visto pelos outros irmãos por ser doente, nem sequer carrega o nome da família, o que dá um tom mórbido e triste a seu personagem, seu final é igualmente trágico e deprimente. Temos também Grushenka que é uma prostituta que vive na história um triângulo amoroso entre Dimitri e Fyodor, ficando tanto com o pai quanto com o filho, uma relação extremamente freak, sendo tal como seus parceiros, demonstrando alguns sinais de narcisismo e bipolaridade, igualmente depresível.


A história inicia narrando o passado da família Karamazov caracterizando os personagens até a parte onde ocorre uma briga entre Dimitri e Fyodor, Dimitri espanca seu próprio pai por causa de Grushenka, seu pai que estava embriagado é ajudado por Alyosha que acaba sendo afetado na confusão. O suspense começa quando Dimitri, precisando do dinheiro do pai para se casar com Grushenka, acaba roubando o próprio pai que termina sendo assassinado durante seu roubo, depois de uns dias Dimitri é imediatamente cooptado pela polícia sendo apontado como principal suspeito pelo crime. Mesmo sendo inocente, acaba se contradizendo várias vezes no interrogatório devido ao nervosismo e termina como culpado pelo crime sendo condenado a prisão na Sibéria, seu irmão Ivan então passa a investigar o caso e descobre que o assassino na verdade era Smerdyakov, no entanto o mesmo diz que cometeu o crime por influência das ideias de Ivan sobre a moral, Ivan entra em pânico e delira e passa o restante dos dias antes do julgamento delirando, conversando com uma entidade que parece ser o diabo, Ivan dialoga com a criatura compreendendo que suas ideias causaram a morte de seu pai e que no fundo ele era um ser totalmente moral e que aquilo lhe incomodava muito. A ideologia de Ivan é algo parecido com que Nietzsche explorava em seus livros, sobre elevar a natureza do homem, no entanto essa mesma ideia terminou criando em Ivan um certo ódio contra a humanidade. Temos também o poema de Ivan, que dá uma análise isolada pela quantidade de temas e implicações que possui. O livro então termina com Dimitri sendo ajudado por Ivan a fugir para a América, Smerdyakov se suicida e o livro termina com o velório de um menino que era amigo de Alyosha.

O livro possui muitas mensagens sutis sobre o livre arbítrio, sobre a moralidade, sobre o amor, sobre o cristianismo, sobre as consequências de nossos atos, sobre niilismo, socialismo, igualitarismo, catolicismo e uma verdadeira gama de questionamentos e temas que dariam livros por si só. No entanto diria que a obra é mais que isso e nos passa lições valiosas e nos joga na cara uma realidade incômoda, com o livro constantemente ressaltando as misérias e problemas que sofrem os personagens, sendo um livro amargo de ler em algumas partes, não é sobre escapismo ou sobre histórias bonitinhas, diferente das obras modernas, não romantiza os maus hábitos e valoriza a disciplina, o amor a Deus e ao próximo, mostrando como essas ideias de amoralidade são destrutivas e levam o ser humano à ruína, gosto da mensagem, gosto dos temas envolvidos, gosto da exploração psicológicas dos personagens, o que cada um deles representa, de modo que seria Irmãos Karamazov, o último livro de Dostoyevksy, uma obra prima absoluta? No, infelizmente o livro não é perfeito, é demasiado longo, não, é desnecessariamente longo e até maçante em vários momentos, coisas que estão apenas para alargar ainda mais o livro, a parte do julgamento por exemplo, é excessivamente longa e desinteressante para prender atenção. Também acho que o final foi medíocre, não deu uma conclusão satisfatória para Alyosha ou mesmo Ivan, sendo sincero gostaria que o autor quitasse toda as partes de investigação e se concentrasse apenas na psicologia de Ivan e que desse um final melhor a Alyosha.

E querem saber? O livro é fantástico! Apesar desses erros que mencionei o livro conta com vários personagens sumamente realistas e bem escritos, uma das melhores histórias que li, para quem leu e gostou de coisas como 100 anos de solidão, certamente irá gostar de Irmãos Karamazov, de modo que a nota segue:

ESCRITA:8/10(competente)
PERSONAGENS:9/10(seria 10 se não fosse pelo final)

TEMAS ABORDADOS:10/10(rico em temas filosóficos, políticos e religiosos, sendo referência para o estudo de questões morais e etc)

ENREDO E DESENVOLVIMENTO:8/10(a primeira parte tem um dos estudos de personagem mais profundos que eu já vi, no entanto a segunda parte não supera)

IMPORTÂNCIA HISTÓRICA:10/10(última obra do autor e com mais temas envolvidos)

NOTA CALCULADA:8+9+10+10+8/5=9

NOTA FINAL:9/10

PRÓS: excelentes personagens, abordagem de temas filosóficos, entretido

CONTRAS: excessivamente detalhista, coisa que pode deixar maçante algumas partes, final fraco para Alyosha
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Added by Magnifik
2 years ago on 8 April 2022 05:29