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Brazil, filme de 1985 por Gilliam alguma coisa, o mesmo que escreveu as sátiras de monte pyton, minha impressão inicial sobre esse filme é bem positiva já que conta com um bom tema musical, Aquarela do Brasil, Brazil apesar do nome, não tem haver com o país mas com um mundo distópico e desesperançoso onde a burocracia estatal tomou conta de tudo, um partido supremo dominou o mundo e impôs uma espécie de regime fascista positivista, algo parecido com 1984 de George Orwell, a diferença é que Brazil não é tão pessimista como 1984, ainda sim possui críticas e comentários políticos bastante perturbadores, a sociedade em Brazil por ser dominada por burocratas acaba se convertendo em um mundo cinza e sem vida, com uma arquitetura quadrada, sem detalhes, tal como é hoje em dia com esses arranha-céus poluindo a vista, com um mundo triste e sem vida regido por regras e leis burocráticas onde ninguém questiona nada, não é de se estranhar que as pessoas se tornem insensíveis aos problemas que estão em seus narizes, um exemplo do que falo é quando ocorre um atentado terrorista em um restaurante e os personagens simplesmente ignoram e voltam a fazer o que estavam fazendo, também por outro lado, uma das razões de porque ninguém questiona é o conforto, em geral obras sobre distopia e regimes autoritários não mencionam os fatores que levam esses regimes durarem tanto tempo impondo tantas restrições e tirania e Brazil explica bem, todos estão conformados com o conforto proporcionado pelo governo, ou seja, sistema de saúde, segurança e serviços gratuitos, também o fato de que todos tem emprego e moradia, bem é basicamente a razão principal de Hitler ter ficado no poder por tato tempo, me agrada que os aspectos políticos desse filme são abordados de forma sutil e nada panfletário, mas nenhum tema me pegou mais que o tema sobre escapismo, que nos leva ao nosso protagonista, Lowry, Lowry é um funcionário do estado e um solitário sem vida, como de costume nesses filmes, não tem filhos, esposa, apenas um emprego tedioso e sem futuro para algo mais, o que o torna um genuíno doomer que não vê nenhum sentido na vida, vivendo apenas fantasias escapistas onde ele seria um heroi que salva a princesa, que nesse caso é uma anarquista, seduzido pela mulher Lowry decide se rebelar contra o governo mas é capturado e preso, a mulher também é presa mas no último minuto um grupo de anarquistas liberta Lowry que consegue salvar a mulher e fugir vivendo feliz para sempre... só que não, porque tudo não passava de uma ilusão provocada por drogas, o final real é que Lowry foi condenado a viver em uma espécie de matrix e a mulher foi morta terminando com uma nota amarga e triste contrastando com uma música final feliz, fazendo esse um dos finais mais sombrios e perturbadores da história do cinema.
O que dizer de Brazil, é muito bom a nível narrativo, possui uma boa trilha sonora e possui tantas críticas pertinentes a nossa sociedade atual que genuinamente me agarrou, quantas vezes não nos deparamos com atrocidades cometidas diariamente e simplesmente viramos a cara e ignoramos, a fixação por coisas caras em uma sociedade de valor nos gerou um consumismo e hedonismo que simplesmente nos tirou o verdadeiro sentido de profundidade, a busca pelo transcendente e pela melhora virou uma busca incessante por prazer e coisas caras que no fundo não possuem valor algum, quantas vezes já não nos pegamos em fantasias absurdas onde somos os herois e salvadores do mundo ou mesmo fantasias de liberdade, onde podemos voar, ir para qualquer lugar, para onde quisermos sem nos preocupar com a maldita burocracia, com deveres sociais, Brazil sintetiza isso perfeitamente, tanto que a capa do filme é o protagonista tentando voar mas despencando do alto com um fundo de gavetas de escritório, representando a libertação da castração mental que é seu emprego, um claro simbolismo sobre o mito de Ícaro, querer ir tão alto e ser derrubado morrendo pela liberdade, não é necessário estar em uma ditadura para perder sua liberdade, simplesmente um dos filmes mais belos que já vi e realmente recomendo que todos vejam.