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Deus e o Diabo na terra do sol, é um daqueles filmes sobre o nordeste relatando a miséria e pobreza da região, ressaltando aspectos negativos como o fanatismo religioso, o cangaço, a violência e desamparo por parte dos agentes do estado, algo óbvio mas que na época representou um importante papel na divulgação dos problemas econômicos e sociais, parece que estou recitando uma redação do enem mas é isso ai, o filme gira em torno de Manoel e Rosa, dois caipiras muito pobres(e burros) que devido a miséria são forçados a fugir e se aliarem aos seguidores de Sebastião, um líder de seita que diz ser irmão de Cristo ou algo assim, as pessoas simplesmente acreditam e o veneram, Manoel representando o afegão médio acredita ferrenhamente que Sebastião é o irmão de Cristo, Sebastião representando a ilusão, a mentira, vende falsas expectativas para Manoel que abraça, Rosa, sua esposa representa a realidade ressaltando constantemente que Sebastião é um charlatão e falso profeta, até que o mesmo Sebastião lhe pede um sacrifício de sangue para Cristo assassinando uma criança, o ápice e talvez a cena mais pesada do filme, após isso vem Rosa(a realidade) e assassina Sebastião(a ilusão) Manoel então é obrigado a fugir e se juntar aos cangaceiros e participar do massacre de uma vila, é onde conhecemos a total desesperança, Corisco, o diabo loiro(que realmente existiu), Corisco era um remanescente da gangue de Lampião, sendo um dos últimos orquestrando massacres e saqueando, Manoel se junta enquanto um sicário chamado Antônio das Mortes é encarregado de eliminar Corisco.
Um aspecto interessante desse filme é que ele nunca reduz os personagens a aspectos dualistas de bem e mal, todos são um contraste interessante entre esses dois aspectos, já li críticas que diziam que esse filme retrata o purgatório por representar pessoas cinzentas de moralidade, vejamos por exemplo, Manoel que é um sertanejo padrão, religioso, idealista, leal e ao mesmo tempo capaz de matar inocentes em nome dos outros e também demonstra um caráter relativista já que se aliou ao bando de Corisco apenas por conveniência, Corisco por outro lado é um assassino sanguinário e ao mesmo tempo acredita em uma vida espiritual que segundo suas próprias regras o condenaria ao inferno mas o mesmo não percebe pois está imerso em uma loucura satânica, a construção de seu personagem é interessante, ao mesmo tempo que aparenta ser o diabo encarnado, suas motivações são razoáveis, estamos falando do Brasil do fim do século 19 e início do século 20, o descaso e abandono das autoridades somado a condições miseráveis onde o país atravessava uma seca brutal, quer dizer, um cenário propício para alguém como Corisco existir, Antônio das mortes sendo o suposto justiceiro mataria Corisco e poria fim em sua maldade, acaba por cair em questionamentos morais sobre a situação do sertão, sobre o assassinato dos seguidores de Sebastião, sobre a moralidade da igreja católica e etc. Muitos estudiosos católicos da atualidade acreditam que o purgatório seria um estado de espírito e não uma divisão do mundo espiritual, seria uma espécie de niilismo onde impera a tristeza e miséria de um coração abandonado pelo governo e por Deus.
A importância histórica desse filme é enorme, retratou de forma muito verossímil vários dos problemas do passado e da atualidade, sua construção narrativa e contraste entre os personagens é simplesmente genial, sua filmagem está ok e se nota muito a inspiração no neorrealismo europeu e nas peças propagandísticas de Serguei Eisenstein, até parece que o filme é perfeito não? a verdade é que não, o filme apesar do enredo genial possui vários erros de continuidade, de cenas que envelheceram muito mal como a cena de Manoel matando a facadas o coronel, também está um tanto cheia de tempo morto que facilmente poderiam ser cortados ou editados, para a época a sua filmagem é passável:
filmagem:6/10
atuação:7/10
personagens:7/10
história:9/10
música:8/10
nota final:7/10
