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Gabriel García Márquez review

Posted : 1 year, 11 months ago on 13 June 2022 01:04

Gabriel Garcia Marquez é um dos escritores mais icônicos de todos os tempos e o mais famoso de seu país, suas histórias alcançaram um grau tão elevado que a sua obra foi traduzida para inúmeros idiomas em todo o mundo estando do lado dos gigantes da literatura mundial como Miguel Cevantes. Contudo, sabemos que o fato de algo ser popular e aclamado pela crítica não significa que por consequência será algo bom, não é porque Harry Potter vendeu bilhões que é algo bom de certo, no Brasil temos Paulo Coelho que igual ao Gabriel, tem o mérito de ser reconhecido mundialmente ao passo que suas histórias em geral são fracas e medíocres. Seria esse o caso de Gabriel Garcia Marquez? Apesar de que não gosto nem um pouco da ideologia dele sendo ele amigo de Fidel Castro, não é lá um bom sinal, ainda sim eu sou obrigado a dizer que suas histórias possuem o mérito de serem criativas e distantes de clichês e mediocridades. Suas obras estão cheias de psicologismos e tratam de temas como responsabilidade pessoal e transcendência que recebe um toque aqui e ali de magia.

Se são ávidos críticos já devem ter notado que a magia é uma faca de dois gumes em uma história, pode tanto ser positiva quanto negativa, a forma errada de usar a magia em histórias é usando-a de forma a beneficiar sempre e incondicionalmente os protagonistas, seja através de profecias ou poderes sacados do nada. A forma positiva é simplesmente fazer com que a magia seja um elemento da história e não o foco da história em si, há que se estabelecer regras e limites de forma que seja um elemento neutro na história, algo que pode tanto beneficiar como desfavorecer os personagens, em hora de aventura por exemplo, a magia quando usada enlouquece os usuários.
A magia nas obras de Gabriel Garcia é sutil e é o jeito certo de se fazer, não é o centro e em alguns casos é inexistente já que o autor foca apenas nos personagens e na convivência diária com várias interações marcantes e familiares que quase todo latino americano já passou, de uma certa forma é esse o maior charme de sua obra, para os latino americanos como yo é uma experiência bastante familiar.

O problema do realismo:

O realismo na literatura brasileira possui vários defeitos que considero graves, o primeiro deles é de ser bastante panfletário e cheio de gore e exageros, sempre retratando as pessoas como miseráveis imprestáveis que estão presos a sua condição social incapazes de transcende-la. Fora que no geral as obras brasileiras se perdem muito em adjetivações desnecessárias que dá um ar de densidade temática quando em realidade é algo muito mais simples e sem dinamismo, é como se os escritores estivessem competindo para ver quem escreve mais difícil ao ponto que alguns são quase indecifráveis. Esse é um aspecto que admiro da literatura anglo, nela as coisas são mais simples e diretas, diretas mesmo quando os temas são sérios e densos. O realismo no geral é uma escola superior em sua própria premissa já que ela busca uma aproximação da substancialidade do gênero humano em vez de ser algo fantástico e improvável, buscando evitar os escapismos e a idealização do ser.

Todavia o fato de ser uma escola com premissa superior, não exclui o fato de que pode ser mau executada, como qualquer outro gênero ou escola literária há os bons e os maus exemplos. No caso do realismo, para um escritor medíocre é muito fácil cair em exageros onde para provocar sentimentos em nós leitores, os escritores abusam das misérias nos personagens gerando melodrama e histórias genuinamente ruins e em uma pretenciosidade narrativa. Outro aspecto que pode arruinar o realismo é o uso de temas filosóficos postos de qualquer maneira, existem exemplos corretos de fazer como Irmãos Karamazov onde os temas filosóficos e políticos são harmônicos com a trama e os personagens. Também pode causar estranheza se o leitor não for adepto da filosofia. De modo geral se é para colocar temas filosóficos ou políticos em obras realistas é necessário ter a conexão com a história e com os personagens, um pode representar ideologia política x e o outro y, assim por diante, é interessante também refletir a filosofia e a ideologia do personagem no próprio personagem, por exemplo, pessoas introvertidas tendem a acreditar em ideias mais individuais. De modo geral não é qualquer um que consegue escrever uma história de teor realista.

No caso de Gabriel Garcia o realismo é bem executado, os personagens e os temas são harmônicos e quando há carência de política, os personagens são devidamente caracterizados com facetas mais humanas dando um toque mais familiar, Ursula Iguaran por exemplo, é a típica mãe latina que esperaria, não é nem perfeita ou idealizada e nem é horrível como pessoa. Sem enrolação direi logo o parecer sobre a obra do Gabriel, antes devo avisar que não li tudo e deixei muitas obras de fora, as que li foram as principais obras, isso é: 100 anos de solidão, amor nos tempos do cólera, memórias de minhas put4s e crônicas de uma morte anunciada.

Amor nos tempos do cólera: começando por um romance nós temos amor nos tempos do cólera, que narra um romance nada convencional entre um médico e uma moça que dura mais ou menos 30 anos e após a morte do médico é que se inicia o romance com outro personagem, é confuso já que o romance não começa no início se não depois de alguns vários capítulos. A primeira parte narra o convívio entre Fermina Daza e o doutor Juvenal Urbino, a segunda é sobre como eles se conheceram e a terceira é sobre Florentino Ariza que mantém um certo romance por Fermina por décadas até que decide confessar o seu amor após alguns anos da morte de Juvenal Urbino. Bueno, Bueno, o quão bom é esse livro? Honestamente a primeira parte do livro é bastante divertida, narra todo o convívio de Urbino de Fermina, que é algo bastante familiar, ambos os personagens são carismáticos e o desenvolvimento e conclusão são até comoventes.

A segunda parte, que conta como Fermina e Urbino se conheceram também é interessante conceitualmente já que se trata de um romance que se desenvolve em plena pandemia de cólera. É algo bastante único o conceito de romance no meio de uma pandemia, aqui há uma exploração maior de Fermina enquanto que Urbino é meio ofuscado, já a terceira parte é sobre Florentino Ariza que passa por anos até se confessar e finalmente conseguir conquistar o amor de Fermina com o fim do livro. Posso dizer que o livro é uma desconstrução do gênero de romance pela peculiaridade e execução, estamos falando de um amor que se concretizou após quase meia década. Os 3 personage são interessantes e no geral o livro é divertido apesar de não ter conteúdos mais profundos:

8/10

Memórias de minhas putas tristes: eh sim, como explicar esse título? O livro narra a história de um exímio frequentador de bordéis que nunca logrou nada importante em toda a sua vida, sem nunca ter amado nem se dedicado a nada importante, um fracassado em toda a regra. De início tive uma surpresa por esse livro ter sido o último dele, é uma obra cheia de reflexões e psicologismos interessantes que chegam mesmo a lembrar coisas como memórias do subsolo. É basicamente um livro reflexivo e aborda algumas questões como a responsabilidade pessoal, a tristeza e o vazio existencial, o personagem principal é um ser medíocre que nunca teve a ambição de construir um nome ou nada do tipo e tentou suprir esse vazio com bebidas e prostitutas. Considero um bom livro e a mensagem é um tanto ambígua e a linguagem poética ajuda bastante, é como a morte de Ivan Illytch de Tolstoy, um genuíno Memento Mori onde o protagonista descobre o amor já na velhice e contém o tom macabro da prostituta ser uma garota de 14 anos, o tom é bastante pessimista.

8/10

Crônicas de uma morte anunciada: ao ler o título eu imaginei ser algo como Memórias póstumas de Brás Cubas, mas nop, é uma história sobre um rapa descendente de turcos chamado "Santiago Nasar" que após se envolver com uma mulher que ele descobre que não é virgem e é então que os irmãos dessa mulher juram vingança contra Santiago por ele ter manchado a honra. É uma história simples sem muito conteúdo para analisar, está cheio de poesia, coisa típica dele e solo, não há um grande desenvolvimento de personagem, apenas um retrato bastante fiel da América Latina no século 20 e há uma certa quantidade de gore que vejo desnecessário.

6/10

Cem anos de solidão: agora sim vamos para sua obra prima (segundo a crítica). Cem anos de solidão é sua obra mais popular e mais traduzida em todo o mundo, ela narra a história de uma família típica do Caribe narrando o percurso de várias gerações, começando com a primeira geração de José arcádio buendia e Ursula Iguaran, para em seguida a geração de Aureliano buendia, Amarante e José arcádio(dois) e assim sucessivamente até a última geração dos buendia que é a geração de Maurício Babilônia. No que concebe a qualidade do livro, é fantástica em termos de escrita, condensa todo o estilo literário do escritor com descrições divertidas e simples de entender, é apenas muito bonito de ler. Sobre os personagens, com exceção da primeira e da segunda geração, são conceituais mas funcionam dentro do contexto da história, alguns são repetitivos e com a justificativa de serem assim pela própria ontologia da obra que narra um ciclo de decadência de uma família marcada pela falta de amor ao próximo, pela frieza e pela degeneração moral.

É ao contrário de outras obras que tentam ser realistas, uma obra sobre consequências e responsabilidade pessoal, aqui os personagens são castigados pelas próprias ações em vez de ser algo puramente vísseral como outras obras da época que tentam emular esse realismo mágico. Como disse antes, os buendia da primeira e segunda geração são os mais complexos da obra e os mais bem desenvolvidos. É genuinamente uma tragédia bem construída que mostra os efeitos dos anti valores da sociedade liberal. Ainda sim não é uma obra prima e conta com alguns erros como não explicar certos eventos que, suponho seriam importantes para a obra ou de não aprofundar nas últimas gerações dos buendia, no mais é um excelente livro digno de elogios.

9/10

De modo que Gabriel Garcia Marquez é um escritor para lá de memorável, seus personagens são bastantes simpáticos com algumas excessões aqui e ali, sua obra é rica em poesia e apresenta a maneira correta de redigir o realismo literário sem cair em adjetivações desnecessárias ou em exageros grotescos para gerar chock, não li tudo dele mas pretendo adicionar mais obras à lista.

8/10


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