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Dores Do Crescimento, release por Arthur Dapieve
Os primeiros quatro versos são um aviso à praça: “Vamos começar/ Colocando um ponto final/ Pelo menos já é um sinal/ De que tudo na vida tem fim.” Paradoxal? Não, a menos que se tenha perdido de vista o disco anterior de Moska. Bem de acordo com o ano de 2001, sombrio coletiva e pessoalmente, “Eu falso da minha vida o que eu quiser” era de uma depressão quase terminal. Quase. Daí a presente “Tudo novo de novo”, faixa que dá título ao CD-marco de dez anos de carreira solo na EMI, uma espécie de hino. Aos 36 anos, Moska se reabriu para o mundo e para a vi
Dores Do Crescimento, release por Arthur Dapieve
Os primeiros quatro versos são um aviso à praça: “Vamos começar/ Colocando um ponto final/ Pelo menos já é um sinal/ De que tudo na vida tem fim.” Paradoxal? Não, a menos que se tenha perdido de vista o disco anterior de Moska. Bem de acordo com o ano de 2001, sombrio coletiva e pessoalmente, “Eu falso da minha vida o que eu quiser” era de uma depressão quase terminal. Quase. Daí a presente “Tudo novo de novo”, faixa que dá título ao CD-marco de dez anos de carreira solo na EMI, uma espécie de hino. Aos 36 anos, Moska se reabriu para o mundo e para a vida. E o fez em grande e generoso estilo.
Musicalmente, “Tudo novo de novo”, seu sétimo álbum como solista, é o terceiro em seqüência a investir naquilo que o cantor, compositor, violonista e guitarrista chama, unindo suas duas grandes referências musicais, de “rock com formação de MPB”. Trata-se de uma banda coesa tocando música brasileira, aqui produzida por Nilo Romero, batizada de Quarteto Móbile/Moska: ele mais Marcos Suzano (ritmo e percussão), Sacha Amback (interferências e teclados) e Dunga (baixo). Note-se, portanto, que à fórmula “rock + MPB” poder-se-ia acrescentar “eletrônica”, elemento que, apesar de estar longe de ser preponderante no formato descoberto em “Móbile” (1999), contribui para o clima geral. De quebra, participações especiais nuançam ainda mais o trabalho. É o caso de Fernando Alves Pinto tocando serrote (!) em “O último adeus” e “Essa é a última solidão da sua vida”.
Visualmente, “Tudo novo de novo” foi concebido por Moska, junto com o designer Luiz Stein, a partir de uma obsessão que desenvolveu pouco depois do Onze de Setembro: uma semana antes, ele tinha estado em Nova York, onde comprara sua primeira câmara digital. De volta ao Brasil, na estrada, Moska iniciou uma série de auto-retratos captando sua imagem refletida nos metais dos banheiros dos hotéis: chuveiros, bicas, torneiras etc. Quando viu o material, percebeu que, sem querer, havia desenvolvido uma linguagem, uma linguagem de estranheza e solidão. São essas fotos, batizadas de “Tudo novo de novo” (no qual Moska se flagra no “ovo” de uma maçaneta) ou “Lágrimas de diamante” (angustiante composição com uma torneira), que (de)formam capa e release do CD.
Existencialmente, “Tudo novo de novo”, embora mais leve do que “Eu falso da minha vida o que eu quiser”, não perdeu o tom melancólico que caracteriza boa parte do trabalho de Moska. Basta uma rápida olhada nos títulos das músicas: “Lágrimas de diamantes”, “O bilhete no fim”, “Cheio de vazio”, “Jardim do silêncio”, “A idade do céu”... Esta, aliás, marca um encontro feliz com um igual, o cantor, compositor e violonista uruguaio (radicado na Espanha) Jorge Drexler. A versão de Moska para “La edad del cielo” preservou toda a doçura e serena tristeza do original em versos como “não damos pé/ Entre tanto tic tac/ Entre tanto Big Bang/ Somos um grão de sal/ No mar do céu”.
Drexler veio ao Brasil em maio passado, para acompanhar as gravações de “A idade do céu” e acabou registrando, em castelhano, outra de suas músicas, “Dos colores: blanco y negro”, num tocante dueto com Moska. O comentário do uruguaio, antes de as duas vozes e os dois violões entrarem em cena, irmanados, no comecinho da derradeira faixa – “(...) Podemos nos relaxar tranqüilamente que já temos certeza de que temos alguma coisa que está muito, muito linda” – vale para todo o CD. Vale para “Lágrimas de diamantes”, por exemplo, engenhosa gema pop com o refrão “Lágrimas de diamantes/ À noite, lágrimas de diamantes/ De dia lágrimas, à noite amantes/ Lágrimas de diamantes”.
Vale para a bluesy “Essa é a última solidão da sua vida”, parceria de Moska com Pedro Luís, Mart’nália, Thalma de Freitas e Talita Castro. Vale para a cubanizada “O último adeus”, que abre assim: “A partir de agora/ Você me abala/ Mas não me anula/ Eu já fui embora/ E você ainda fala/ Que quer que eu te engula”. Vale para o sambinha – no melhor dos sentidos – “Acordando”, na qual Moska divide os vocais com a impressionante Mart’nália. Ou para a estouradíssima balada “Pensando em você”, incluída na trilha sonora da novela global “Agora é que são elas”. Ou vale, ainda, para a fantasmagórica valsa “Impacto”. Enumerar todas as 14 faixas não seria exagero algum, pois tudo é, como diria Drexler, muito lindo. Contudo, isso seria ocioso.
Cabe é perceber que, não importa qual a faixa destacada, não importa nem o disco destacado, seja ele “Vontade” (1993), “Pensar é fazer música” (1995), “Contrasenso” (1997) ou “Através do espelho” (ao vivo, 1997), além dos já mencionados, a obra solo de Moska, ex-Paulinho, ex-ator, ex-Garganta Profunda, ex-Inimigos do Rei, apresenta tal inteireza no som e tal honestidade nas letras que permite chamá-la disso, de “obra”, sem forçar a barra. Nesse sentido, “Tudo novo de novo” só poderia ter vindo depois de “Eu falso da minha vida o que eu quiser” e “Eu falso da minha vida o que eu quiser” depois de “Móbile” e assim (de trás) por diante. Por eles, a gente acompanha o crescimento, humano e artístico, de Moska. Ele sabe – e nos ensina – que nenhuma metamorfose é sem dor.
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Manufacturer: EMI Europe Generic
Release date: 30 August 2004
EAN: 0724359490526 UPC: 724359490526
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