"Viver é sofrimento" biblioteca da meia noite foi um achado interessantíssimo em meio a tantos livros tediosos e pseudofilosóficos. Aqui nós topamos com Nora Seed, uma mulher que fracassou na vida e decide que irá tirar a própria vida mas no dia em que tenta consumar o ato acaba indo parar em uma espécie de sala onde é instruída por uma bibliotecária de meia idade a escolher uma das milhares de vidas que ela poderia ter em universos alternativos.
Assim Nora poderia escolher outras vidas, vidas essas onde ela não teria "fracassado" entre aspas, assim tendo uma espécie de segunda chance.
Esse livro ainda não foi adaptado(até onde eu sei) mas eu tenho certeza que quando for será uma experiência interessante, o livro planta um cenário filosófico que nos põe para pensar em questões existenciais bem delicadas de uma forma que é impossível não se colocar na situação da protagonista. Cada um de nós tem ou já teve um sentimento de arrependimento, de ter negado e se arrependido depois onde criamos todo um cenário na nossa cabeça onde teríamos aceitado.
Mas além disso o livro aborda uma questão essencial pra qualquer ser humano, as nuances do sucesso e do fracasso, Nora por toda a sua vida foi um fracasso, nisso vivendo em uma vida onde ela realizou os sonhos dela ela certamente estaria feliz não? O caso é que Nora em suas outras realidades terminou arrependida de todas as formas pois em todas as realidades ela teve que lidar com o sofrimento emocional, físico e até espiritual.
Esse livro em miúdos seria algo como o episódio 26 de evangelion onde shinji se vê em outra realidade e como seria se ele agisse de outro modo. No caso de Nora o que realmente faltava nela como um todo é o amor ao próximo e não o sucesso material em si. Ela atribuía ao seu fracasso como pessoa por não ter conquistado fama ou sucesso quando na verdade ela mesma não conseguia criar nenhum vínculo e estava emocionalmente perdida em um marasmo de depressão, presa a um passado que ela não poderia mudar.
Nisso o livro brilha descrevendo psicologicamenre o estado de Nora.
O livro também explora um tema essencial pra nossa geração, que é a questão de se comparar com os outros.
O efeito nefasto das redes sociais afetou muita gente e é difícil não se pegar vendo a vida dos outros e não comparar com a sua, você sempre vai estar insatisfeito, isso é uma característica humana e as redes sociais exploram isso de forma que a pessoa se sente até péssima por não ter milhões de seguidores ou uma ferrari.
Nora se comparava demais com as outras pessoas e esquecia de ser ela mesma, de aproveitar o tempo que ela tinha fazendo as coisas que a agradavam. Sem mais, a filosofia do livro é perfeita, sem tirar nem por, o grande problema que eu vi no geral são os personagens secundários que não são tão profundos ou sequer são simpáticos como o irmão da Nora. O livro também é um pouco prolixo em algumas partes e o final é literalmente explicado, o que não é exatamente um problema e até considero o discurso final de Nora algo genuíno e catártico. De novo comparando com quando Shinji se liberta da instrumentalização.
É um bom livro, melhor que Querida Kombini, não chega a ser um nível 9/10, mas sem dúvidas é uma obra reflexiva e honesta em suas questões e concordo bastante com a mensagem final. Também me agrada que não haja militância lgbt ou propaganda progressista e se tem é imperceptível.
7/10
The Midnight Library Reviews
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