Certa vez me perguntaram qual era o equivalente de Dostoyevsky na literatura brasileira, respondi que não havia nenhum, porém se há alguém que se aproxima bastante disso é Graciliano Ramos, respeito o que ele tentou fazer com esse livro já que pouquíssimos autores brasileiros tentaram se aventurar no existencialismo e em questões mais avançadas, a maioria caia em proselitismo ideológico, coisa que converteu obras que em conceito eram interessantes mas que terminaram por sucumbir aos ditames ideológicos dos autores, caindo em uma categoria de romances panfletários. Não é o caso de Graciliano Ramos, ele, apesar de pertencer ao partido comunista, jamais prostituiu a própria obra em prol de pregar a luta de classes. De forma que as suas obras são obras e não panfletos.
Angustia é a versão brasileira de Crime e Castigo, com um personagem introspectivo com vários problemas de ordem emocional que termina cometendo um crime, tendo que lidar com os sentimentos que esse crime gerou. O transfundo psicológico do protagonista está bem manejado, a parte do crime em específico é fantástica a riqueza de detalhes das emoções do protagonista, coisa que se mistura ao dom de Graciliano em descrever cenários o que gera uma cena genuinamente marcante na mente do leitor. O livro é bastante competente em termos de escrita, apesar dos inúmeros palavrões que são infelizmente um poluente na obra. Apesar de gostar do protagonista e de todo o seu drama não é como se a obra fosse perfeita, os outros personagens com excessão do Protagonista são secos e não ressaltam muito além de fazer um comentário acerca da sociedade brasileira, boa parte do livro é completamente mundano e pouco ou quase nada ocorre.
O protagonista é um amargurado, decepcionado e cínico como um Holden Caufield da vida, se define como um oprimido e justiceiro social quando na realidade o faz por puro individualismo, algo irônico se pararmos para pensar. Em resumo, é um livro que consegue ser decente pela complexa caracterização de Luís da Silva mas que falha em caracterizar os outros personagens, considero como um erro o fato de ser demasiado mundano ao invés de ser algo mais impactante, também vem a calhar que parte do livro é autobiográfico então leiam;
6/10